Por causa da evolução descontrolada
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O presente do nosso tempo representa um grave declínio do humanismo e dos valores que sustentam a sua renovadora filosofia na solidariedade e no respeito pelos outros.Cada vez mais pessoas trabalham para sobreviver e não vivem
para trabalhar com empenho e gosto de aplicarem a sua sabedoria. As escolas são
um local triste, caminhando para formar pessoas medíocres, em vez do ensino do
desenvolvimento das capacidades natas e da criatividade nos ensinamentos
adequados à vida profissional com qualidade.
O Estado perde-se nos meandros do compadrio e está refém de
uma grande quantidade de agentes acomodados, medíocres dirigentes e camaleões insurgentes
a danificar a vida dos cidadãos que precisam dos seus serviços para a
normalidade do serviço público.
As empresas banalizam a natureza dos seus empregados,
privando-os do necessário apoio formativo e evolutivo, tornando-os um bem
amorfo e desinteressado na evolução dos conhecimentos de aprendizagem
Muitas das famílias vivem a um ritmo desenfreado atrás do
consumismo, que nem se apercebem do disfarce que encobre as suas debilidades
perante a agressividade da propaganda dos bens supérfluos em desfavor dos
essenciais. É uma corrida que deforma as mentes da juventude e despreza os
alicerces para uma vida saudável e de sucesso.
Caminhamos para o colapso da família, para o abismo da
depressão de contornos de loucura, para a escravatura à mercê do capitalismo
monstruoso capaz de triturar o que resta da sociedade social, tornando o
horizonte sombrio e preocupante, para não dizer trágico.
Perante este cenário terrível, continuamos a assistir a uma
chusma de comentadores idolatrados pelos distraídos e acomodados, perigosamente
ao serviço dos grandes impérios do poder oculto que se prepara para nos
trucidar sem retorno. Se os órgãos de informação estão cada vez mais
concentrados e controlados pelos grandes grupos económicos e financeiros, os
servis comentadores são os coveiros que ajudam a cavar as covas onde os
desprotegidos cidadãos acabarão por sucumbir.
Dificilmente conseguiremos barrar o caminho da desgraça que
se avizinha, porque a nossa fragilidade e, até, indiferença perante a sanha
tenebrosa que progride a olhos vistos, nos torna vulneráveis às consequências
do desastre económico e humanitário que se afigura no horizonte da humanidade.
A cobardia dos acomodados, aliada à timidez do cidadão comum
e aproveitada pelos poderes instalados ao serviço da corrupção, são as maiores
causas do avanço do populismo, dos oportunistas sem escrúpulos e dos matadores
de sonhos dos que ainda conseguem lutar por causas nobres.
Só uma vanguarda de gente sem medo, com sentido de
entreajuda comunitária e visão de futuro mais promissor, conseguirá travar o
avanço do domínio do supérfluo e da mediocridade. O progresso não deverá,
nunca, fazer dos seres humanos instrumentos de arremesso contra as alterações
sociais, desvalorizando as suas capacidades de afirmação profissional e de
evolução social.
Falam de crises… mas crises há muitas e de diversos matizes.
O encanto pelas novas tecnologias sem ponderação e bom senso poderá ser o
desastroso desencanto da essência da pessoa humana. As artimanhas escondidas
nos argumentos dos defensores da propagada “inteligência artificial” são
nocivas e perigosas, porque pretendem atrofiar a inteligência dos mais atentos
e atirar para a sarjeta da sociedade os menos preparados para a consequente
evolução tecnológica. Tratar a questão das oportunidades como um desafio é um
sofisma que temos que estar atentos, atendendo à leviandade com que se propagam
as ideias abstractas dos seus mentores.
Devemos estar atentos para entender e desvendar as personagens sinistras que se escondem por detrás das máscaras que se movimento nas catacumbas dos poderes ocultos. Perante a avalanche de restrições à nossa liberdade de seres humanos com direitos, mais do que em outros tempos, precisamos de unir as nossas capacidades de resiliência para juntarmos as forças das pessoas comuns numa sagrada união de luta pela sobrevivência comum. Enquanto não perdermos as forças e os poucos elos que nos unem, precisamos de coragem e imaginação para enfrentar as forças do mal que nos atrofiam a condição de seres humanos com direito a sermos felizes.
Temas actuais.
Valongo, Março de 2002