Carlos Fino apresenta:
O FUTURO SERIA UMA BOA IDEIA
por Viriato Soromenho-Marques
O desfecho das eleições nos EUA não irá alterar a colisão das nações do Atlântico Norte com a dureza do destino esculpido pelos seus próprios erros. Em 30 anos, Washington protagonizou todos os pesadelos que as suas maiores figuras históricas consideravam fundamental evitar. Contra os autores de O Federalista (1788) - Porque as paixões dos homens não se conformam com os ditames da razão e da justiça sem restrição. um dos 10 livros obrigatórios de filosofia política do Ocidente -, a categoria republicana da representação parlamentar, que deveria ser preenchida por um escol, eleito na base da honra e do intelecto, está hoje entregue a gente que faz do Congresso um lugar onde as leis são compradas e vendidas (John Rawls).
Contra F. D. Roosevelt (presidente entre 1933 e 1945), voz infatigável a favor da justiça económica e social como escudo contra o risco de fascismo (que ele temia em caso de regresso à concentração capitalista anterior ao crash de 1929), hoje, nos EUA campeia uma plutocracia obscena que tudo controla, desde a comunicação social ao sistema político, incluindo as eleições (veja-se como Kamala e Trump se encostam ao apoio dos bilionários).
Contra o duplo perigo, denunciado por Eisenhower na sua despedida presidencial em 1961, a saber, o do “pilhar” (plundering) da natureza capaz de ameaçar as gerações futuras, e o de deixar a defesa entregue a uma sinistra teia de interesses sem controlo democrático, o famoso “complexo- -militar-industrial”, o presente mostra-nos os EUA como um persistente obstáculo à cooperação internacional no combate à crise global do ambiente e clima, do mesmo modo que o seu negócio das armas transformou a diplomacia e a política externa na continuação da guerra por outros meios e em todos os lugares que lhes interessem.
Os EUA embarcaram, sem aparente retorno, na demencial desmesura de um poder, autocentrado, que se julga absoluto. Nem Kamala, nem Trump entendem o derradeiro apelo de Roosevelt aos norte-americanos, no dealbar de 1945, quando insistia na ideia de que todos deveriam aprender a ser “cidadãos do mundo” (e não seus donos…), ou a proposta de J.F. Kennedy em 1962, aos países europeus, para uma “Declaração de Interdependência”, que se alargaria à própria União Soviética, quando se tratou de impedir a aniquilação nuclear.
O que une quem manda nos EUA e na UE é um desespero crepuscular, da sua inteira responsabilidade. Para travar o inevitável, sacrificam-se vidas e valores. É indecente falar no Ocidente em direitos humanos, quando a desigualdade doméstica dos EUA resvala na pobreza, e se alimenta o genocídio e agressão perpetrados por Israel. Quando a nossa identidade se define pela fabricação e punição de “inimigos”, e não pelo poder inclusivo de um projeto de futuro, já entrámos no reino das sombras.
02-11-2024
NOTA de Autor: O futuro constrói-se com gente de confiança, gente que acredita na paridade dos poderes e disposta a olhar todas as pessoas como iguais, com direito a uma vida social e cultural inclusiva e satisfatória.
HOJE, ELEIÇÕES NO PAÍS DOS BANHOS DE SANGUE, ONDE CERCA DE 40 MIL CIDADÃOS SE MATAM E SUICIDAM A TIRO TODOS OS ANOS!
- salienta Alfredo Barroso, assustado com a possibilidade de os EUA saltarem "do lume para a frigideira" ou "da frigideira para o lume"...
Quanto custam as campanhas eleitorais nos EUA?
As eleições nos Estados Unidos são das mais caras do mundo. As eleições presidenciais e para o Congresso dos EUA em 2020 custaram mais de 16 mil milhões de dólares; os especialistas dizem que o custo das eleições de 2024 será provavelmente muito mais elevado.
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