quinta-feira, 3 de junho de 2010

CRISE! Qual Crise?


CRISE? ALGUNS VIVEM BEM COM ELA

Ao comentar a avalanche no aumento de impostos decretada pelo governo, o meu vizinho Alfredo Soares começou a lamentar a situação de crise que tem atingido muitas pessoas inocentes, destruindo planos de vida e desfazendo os sonhos de muitos anos de trabalho para dar uma carreira aos dois filhos. É um daqueles vizinhos muito chegados, apegado ao trabalho e com uma vida equilibrada.
Mas um outro vizinho, que é polícia, passou junto ao portão e não conteve o seu desânimo pelo facto de ter acabado de receber um telefonema de um companheiro referindo que os três larápios que prenderam junto ao Hospital de S. João, por terem roubado os bens pessoais de alguns estudantes, ferindo dois deles com as navalhas de ponta-e-mola que usaram, acabaram por ser libertados pelo juiz que não os considerou perigosos para a sociedade. Ora, sendo a terceira vez que os mesmos são detidos pelas mesmas razões e por terem molestado dezenas de transeuntes naquela zona da cidade, quando os juízes os não consideram perigosos nem ladrões, é caso para perguntar até onde vai a benevolência da justiça ou a compaixão do juiz (ou piedosa cobardia) para com estes meliantes; ou será que andam a gozar com os polícias?
Voltando à conversa do vizinho António, fiquei a saber que a crise o tem castigado sem dó nem piedade. Para além da doença inesperada da mulher, o aumento dos juros sobre os empréstimos à habitação, nos últimos três anos, diminuíram a sua capacidade financeira e obrigou a suspender os estudos dos filhos; a filha no terceiro ano de Direito e o filho no segundo ano de engenharia informática. Estão ambos em empregos de trabalho precário; ela numa "grande supercície", onde recebe cerca de 420 euros mensais e o rapaz numa empresa de reprodução de fotografia, ganhando um pouco mais.
O vizinho António, que já teve uma vida desafogada, vive com sérias dificuldades e aproveita o tempo livre para cultivar uma horta onde colhe hortaliças e batatas. Há mais de cinco anos que não tem férias, o que não seria anormal comparado com alguns milhões de portugueses com problemas e situações semelhantes. Para agravar mais o orçamento da família, teve que pagar mais de dois mil e quinhentos euros para ligar a fossa à rede de saneamento básico, por imposição dos serviços camarários.
O que me causa sérios transtornos nos neurónios é ver que outros vizinhos mais afastados, tal como o Manuel da Chica, operário da construção civil, cuja mulher faz uns biscates em trabalhos de costura para as vizinhas, com um filho a trabalhar no comércio - quando lhe apetece, levam uma vida encantada! Desde há uns anos que beneficiam dos apoios da Segurança Social e do município. O Manuel da Chica diz ser “muito doente”, mas fuma e bebe que nem um camelo; mais de metade do ano está de “baixa pela caixa”, mas trabalha em biscates e ninguém dá conta! Vivem em casa própria, consumindo água do poço; como são “carenciados”, não pagaram a ligação do saneamento à rede pública – o município suportou as despesas!
Quase numa rotina diária, a mulher do Manuel – às vezes, também o filho – com outras pessoas beneficiárias do Rendimento de Inserção, que vivem para os lados de Chãos-Formiga, encontram-se nos cafés a meio da manhã, onde tomam os respectivos pequenos-almoços. E todas estas pessoas recebem apoios sociais e de géneros da Junta de freguesia e da Câmara municipal, havendo famílias a receber mais de mil euros mensais do “Rendimento de Inserção”. Ah! E vão gozar férias todos os anos, uns para o Algarve, outros para a região das suas origens: Minho e Douro. Não pagam impostos e vivem felizes!
Por onde andam os senhores da fiscalização? Certamente, gozando a passividade dos gabinetes climatizados. Enquanto isso, sinto-me acabrunhado com o peso dos impostos e indignado na minha qualidade de cidadão.
Joaquim Coelho

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