domingo, 12 de fevereiro de 2023

O Mundo à mercê dos Poderes ocultos.

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NOTA-PRÉVIA:

    Os donos do Mundo, com a ganância de esmagar os poderes que lhes possam fazer frente na programada governação de todas as Nações, correm o risco de ficarem sem nada se continuarmos no caminho da confrontação bélica até à destruição do planeta.

    Por conhecer o Comandante José Luiz e por saber da sua longa experiência nas lides de comando em diversas intervenções militares da ONU, especialmente em defesa dos povos da antiga Iuguslávia, que se desmembrou a mando dos Estado Unidos da América e intervenção da NATO, aqui deixo um Relatório bem explícito sobre as potências militares ao serviço dos "clubes secretos", objectivos programados a longo e médio prazo, interferências múltiplas com pretensões de domínio geopolítico, geoestratégico e geoeconómico para dominar o mundo e escravizar todos os povos. 

 

    Ainda bem que temos alguns conhecedores das estratégias "ocultas" para nos mostrarem a realidade do que está em fermentação com vista ao domínio dos povos deste planeta há longos anos em disputa pelos potenciais impérios do mal. 

 


 Jose Luiz Costa Sousa – Relatório

em 19-01-2023

    2023. Este Novo Ano está já aí a correr as inevitabilidades das suas circunstâncias, do seu tempo histórico, dos seus mais relevantes eventos e, sobretudo, as inconsequências e consequências da generalizada maldade política humana, hoje prevalecente no Mundo e, muito especialmente na Europa, cada vez maior que jamais d´antes, como adiante no tempo se verá, maldade vestida e revestida de nauseativos fingimentos e mentiras, em que os maus e os vilões, pretendendo sempre ser os bons, usam dos seus órgãos de comunicação social em massa, para se endeusarem em infinitas bondades e humanidades, enquanto as suas vítimas são vilificadas, demonizadas, humilhadas e arrastadas para guerras, onde são física e politicamente terra queimadas, e tornadas culpadas de todos os males, sem de facto o serem, e tudo com falsidades disparatadas, para o efeito inventadas, ou em factos distorcidos baseadas.

Em questões de geopolítica, a mais das vezes, o que parece não é e o que é nunca o parece, é tudo arte da ilusão, da mentira pura e dura, da hipocrisia elevada à enésima potência… dela só se sabe, que tudo o que pela mesma é dito ou comunicado, não é semelhante a tal, e que, no mínimo, será o seu contrário, ou pior ainda.

    Em 2023 a tragédia maior da Europa e do Mundo é e continuará a ser, cada vez mais, a guerra que tem como teatro operacional o território ucraniano e, como combatentes, os povos das suas duas vítimas principais, os ucranianos e russos, dois povos irmãos, que se estão a chacinar mútua e acefalamente, forçados por potências que lhes são exteriores, porque lhes ambicionam os territórios e os riquíssimos recursos naturais, assim como buscam avidamente destruir-lhes e desmembrar-lhes os respectivos países, para os absorverem pela NATO e UE, depois de divididos em indefesas micro repúblicas, para deixarem de constituir obstáculos à manutenção das hegemonias mundiais e outras coisas que tais, objectivos maiores dos EUA, servidos e seguidos nesta demanda, cegamente, pela NATO e pela UE.

    Os objectivos da guerra que corre na Ucrânia são, pois, estes e apenas estes, o resto é conversa para boi dormir, como dizem os brasileiros.

    O contexto político militar em que tal guerra decorre, que conheço muito bem, por muitas e variadas razões, é complexo e de difícil compreensão real, para quem não tenha seguido e compreendido, politica e militarmente, todo o processo da guerra e pulverização da Jugoslávia, de 1991 a 95, que a dividiu em sete Repúblicas anãs, e os seus porquês e para quês, a implosão política da ex URSS em 1991, tudo seguido pelo processo de expansão da NATO em direcção às fronteiras imediatas da Rússia, iniciado pelo Presidente Clinton em 1997, contra os compromissos assumidos pela dupla NATO/EUA em 91 para com a Rússia, e que veio a integrar todos os países da Europa Oriental, saídos da ex URSS, excepto a Ucrânia, Geórgia, Moldávia, Bielorrússia, e, ainda e sobretudo, o “golpe de estado” concebido, planeado, financiado e executado pelos EUA na Ucrânia, de Dez2013 a Mar2014, o qual instalou um “governo dos EUA” na Ucrânia em Mar2014, a que se seguiram oito anos de instalação militar e política, dissimulada e contínua, da NATO e dos EUA dentro da Ucrânia, com a finalidade de a transformarem numa plataforma territorial avançada, sobre as fronteiras comuns com a Rússia, para a atacar e desmembrar, oportunamente.

    Em Dezembro de 2021, a dupla EUA/NATO considerou que era chegado o tempo de avançar para a fase da confrontação militar indirecta contra a Rússia, para a vencer, desmembrar e absorver, usando a Ucrânia como mero instrumento ao serviço daquele objectivo, ao fazer daquele país seu mercenário, e do seu território e povo, pura terra e carne para canhão da NATO/EUA, e essa é a situação em curso, desde Fevereiro de 2022… data de início da “invasão” da Rússia.

    Nesse tempo a Rússia, depois de três meses de mil e uma diligências político diplomáticas e ultimatos, de Dez2021 a Fev2022, para que a NATO e os EUA não integrassem a Ucrânia na NATO, e para retirarem o seu dispositivo militar ofensivo anti Rússia da Ucrânia, e tendo apenas obtido respostas inaceitáveis, “insultuosas mesmo”, a Rússia ficou sem opções que não fosse o assumir imediato da sua defesa militar, preventivamente mas já “in extremis”, executando uma “operação especial”, iniciada em Fev 2022, com o objectivo de “desmilitarizar e desnazificar” a Ucrânia, ou seja, fazer sair/ recuar para longe das fronteiras imediatas da Rússia (fora da Ucrânia), o dispositivo militar ofensivo anti Rússia instalado na Ucrânia, guarnecido por “carne para canhão” deste país, actuando já, repete-se, “in extremis”, e em legítima defesa da sua segurança existencial e nacional.

    Surpreendentemente, a Rússia revelou-se militarmente impreparada, incompetente e continua a sê-lo até hoje, na concepção e execução da melhor modalidade de acção e manobra para os fins militares e políticos a atingir em sua defesa, sendo notória a fraca qualidade dos seus quadros militares, desde o topo da hierarquia até aos mais baixos escalões… tendo apenas como atenuante, o facto do “inimigo real” no terreno não serem os ucranianos, simples peões não pensantes, mas sim a NATO e o Ocidente colectivo em bloco.

Sendo eu militar profissional, e seguindo desde sempre os desenvolvimentos das potencialidades das Forças Armadas da Rússia, tinha delas um conceito muito elevado, em termos de todos os equipamentos e dos mais diversos tipos de sistemas de armas, etc… e também da sua instrução, treino e prontidão operacionais, assim como das suas qualidades militares, etc… e, face ao quase colapso das mesmas na Ucrânia, não me encontro explicações…

    A direcção política da “operação especial” na Ucrânia, no particular das nomeações e desnomeações contínuas dos seus Comandantes, por alegada incompetência, revela um desnorte inexplicável do Comandante em Chefe das FA´s Russas, o Presidente V. Putin, e contrariam todas as regras que eu conheço… tendo chegado agora, ao inacreditável ponto, do Presidente V. Putin ter determinado ao seu General, Chefe de Estado Maior General das FA´s da Rússia, Valery Geramisov, função que desempenhava há mais de 10 anos, para deixar o cargo e avançar para a Ucrânia comandar a “Operação Especial”, onde substituiu o prestigiadíssimo veterano das guerras da Chechénia e da Síria, o General “Armagedeon”, no cargo há apenas uns quatro meses, que foi funcionalmente despromovido e passou a ser o 2º Comandante do General Geramisov.

    Ou algo invulgar poderá estar na iminência de ocorrer, como por exemplo o uso de armas nucleares, ou é ainda uma última tentativa de resolver a guerra na Ucrânia sem o recurso ao uso de tais meios… e depois se verá… enfim, esta situação não augura nada de bom…

… se o mais sénior dos generais russos, o General Geramisov falhar, usando apenas os meios convencionais como até agora, o que é provável, pois é óbvio que a razão do insucesso da acção militar da Rússia já não é uma questão de generais ou mesmo de meios… mas sim de algo mais complexo…

… restará à Rússia prolongar a guerra em circunstâncias cada vez mais difíceis, diria mesmo impossíveis, pois o Ocidente colectivo está a subir o patamar da guerra convencional para níveis muito mais letais, com novos carros de combate alemães, ingleses e americanos, novos sistemas de defesa anti aéreos de médio alcance dos EUA e Israel, os Patriot e outros, etc …

… nesta circunstância restará à Rússia retirar da Ucrânia, no todo ou em parte, isto é, com ou sem Crimeia, Donetsk e Lugansk… o que é sempre uma derrota militar da Rússia e o fim político de Vladimir Putin e do seu governo… e, consequentemente, será o fim da Rússia, pois a NATO e os EUA, continuarão a explorar o sucesso até atingirem esse objectivo final.

Resumindo, estas fraquezas das Forças Armadas da Rússia são já inultrapassáveis, poderão melhorar o desempenho, mas não vão resolver a guerra, com meios clássicos, e a via diplomática exigirá da Rússia, sempre, condições de rendição, para esta inaceitáveis.

Digamos que a Rússia está a mostrar ao mundo, com a nomeação do seu último General para a Ucrânia, que quase esgotou o seu potencial relativo de combate convencional, e que já só lhe restam duas opções:

- a vida ou a morte, sejam, o uso de meios nucleares ou a rendição sem o seu uso…

Aqui chegados, a Rússia demonstrou e continua ainda a demonstrar, que os EUA/NATO/EU colocaram já em causa a sobrevivência do Estado da Rússia e a segurança nacional e existencial da Federação da Rússia, e que esta cumpriu e esgotou todo o conjunto de acções político diplomáticas e militares convencionais em sua defesa, mas sem sucesso e que, nos conformes da sua política oficial de segurança nacional, tem o direito e o dever de usar meios nucleares em defesa da Rússia e dos seus povos… contra a NATO e EUA.

É este o quadro político militar, do presente e do futuro imediato, que o ano de 2023 parece apresentar à União Europeia e ao Mundo…

A situação actual do Mundo e, em particular, da Europa, neste momento, é gravíssima… e foi e é a política expansionista contra a Rússia, dos EUA e da NATO, que a ela nos conduziram…

… quanto à União Europeia… em termos desta e outras geopolíticas esta foi e é nada e ninguém… é escrava total dos objectivos dos EUA… e nada pode fazer para os contrariar... excepto obedecer cegamente… ou o Tio Samuel sanciona… e dá tau, tau...

A Rússia entretanto, nestes últimos dois meses, colocou já os seus ICBM´s móveis Yars fora das arrecadações e estacionamentos cobertos, (mísseis intercontinentais com alcances de mais de 10.000 kms), e posicionou-os em situação de trânsito e prontidão operacional imediata, os ICBM´s em silos estão sempre prontos, o submarino nuclear Belgorod está já algures nos oceanos, armado com um 1º conjunto de “torpedos nucleares” Poseidon, únicos no mundo, e um outro novo submarino nuclear está também por aí com 16 mísseis nucleares “Bulava”, etc… e entraram recentemente ao serviço, há menos de dois meses, bombardeiros pesados de longo alcance supersónicos, armados com mísseis hipersónicos com capacidade nuclear de mais de 2.000 kms de alcance, os Khinzals… a tríade nuclear russa está pronta a intervir operacionalmente… aparentemente basta carregar no botão…

… estão pois reunidas duas das condições para que o fim da humanidade se realize, nos conformes das ambições das elites globalistas ao que parece, e que são:

- 1ª A NATO e os EUA colocaram, mantêm e estão a agravar a situação de iminente perigo existencial da Rússia em termos de guerra clássica,

- 2ª A Rússia tem o dispositivo da sua tríade nuclear em posição, armada com os mais modernos mísseis nucleares super, hipersónicos e outros… falta carregar no botão…

… e falta, sobretudo, a decisão e a vontade política e humana para carregar no dito botão…

… e aqui entram os bruxos e adivinhos… será que sim ou que não… quem sabe… 2023 vai responder a esta e a outras questões… desejo que a resposta seja a do Bem e salvação da Humanidade.

Que Deus ilumine os fdp que conduziram a Humanidade a este inacreditável pré-Apocalipse… e esses fdp… na realidade não são, nem a Rússia, nem os EUA, nem a NATO, nem a pobre coitada da zé ninguém UE nestas questões…

... as únicas e exclusivas culpadas são as eufemisticamente designadas elites globalistas… velhas donas e senhoras do mundo… que andam por aí com carapaça de Bilderberg´s.

 José Luiz da Costa Sousa


 

 

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Atribulações do Combatente

 NOTA-PRÉVIA:

O que temos a seguir, é um episódio profundamente incómodo e demonstrativo da maneira de aplicação da justiça em tempos de guerras ultramarinas.

Embora seja saudável rever as "Boas Memórias", tal como referimos em - https://picadasdamicaia.blogs.sapo.pt - as más memórias também servem para nos fortalecer e acautelar. 

  VER mais:  https://jotasousa39.wixsite.com/coelho

 Sábado, 17 de Outubro de 2009

Ilha do Ibo - Fortim e Prisão


 Fortim de má memória... com final para a estória! 

Casualmente, encontrei fotos do Fortim S.José, na ilha do Ibo, Moçambique, e não pude suster a emoção devido aos seguintes factos:.

FORTIM DA ILHA DO IBO – PRISÃO POLÍTICA

 

Ao ver a imagem deste fortim não pude conter a emoção que me tocou fundo por lá ter estado detido uma semana no ano de 1967. Durante uma missão operacional a Sul de Antadora-Diaca, depois de ouvir as instruções do novo comandante de companhia, tenente Castro Gonçalves: “vamos assaltar um acampamento onde pernoitam elementos da Frelimo, onde vivem famílias que os apoiam na logística, e tudo que mexer é para abater. Não vamos fazer prisioneiros, mesmo da população civil”. Como é sabido, os Pára-quedistas eram rigorosos e eficazes no cumprimento das missões de combate, mas não dizimavam população civil, especialmente mulheres e crianças.

Os murmúrios de descontentamento ouviram-se entre o pessoal da companhia; isso deu-me o ânimo suficiente para organizar o boicote à conclusão de tal assalto. Uma noite de chuva intensa ajudou a retardar o andamento da coluna que deveria estar nas proximidades do dito acampamento pela madrugada. Estando eu a recuperar dum ferimento sofrido na coxa esquerda, aquando duma emboscada no Vale de Miteda, por causa da fricção da farda molhada, comecei a ressentir-me e originei diversas paragens para ser socorrido pelo enfermeiro Franklin Armindo. Chegados ao local apropriado para preparar o assalto, a ribeira do Nango, afluente do rio Muera, estava caudalosa e impedia a passagem para o outro lado, onde estava localizado o dito acampamento. Esperando que as águas baixassem de nível, durante o dia, o pessoal foi dando sinais ao inimigo, tanto com o barulho dos cantis como ruídos de toda a ordem. Como à luz do dia não era aconselhável fazer o assalto, o tenente adiou para a manhã do dia seguinte, tendo sido encontrados apenas dois velhos dentro das palhotas. Vimos muitos sinais da presença de pessoas, mas nada mais foi encontrado.

A primeira missão do Tenente resultou num fracasso operacional. Logo fui acusado e ameaçado com processo disciplinar e tribunal de guerra.

Regressados a Diaca, acantonámos no Sagal onde estava o médico da companhia que me receitou diversos medicamentos para minorar a infecção que tinha na perna. Enquanto recuperava, outras missões foram levadas a cabo pela companhia, sem a minha participação, embora o tenente tentasse obrigar-se a ir com o meu grupo de combate.
 


Após dois dias do regresso ao BCP31-Beira, fui informado pelo oficial de justiça, Tenente FAP Sousa e Silva,  que tinha uma grave acusação com vista à minha detenção até que fosse concluído o processo disciplinar. Aproveitei os meus conhecimentos das Leis militares para elaborar uma exposição dirigida ao Chefe de Estado-Maior da Força Aérea, tendo entregue uma cópia ao comando do Batalhão, mas só o fiz no dia seguinte ao registo da carta nos correios da Beira. Pois, corria o risco da carta ser interceptada antes de seguir ao destinatário.

Dois dias depois, pelas dez horas da noite fui detido no meu local de alojamento provisório (arrecadação de material de guerra do batalhão de que era responsável), onde trabalhava em fotografia. Pelas seis da manhã embarquei num avião DO-27, escoltado por um oficial Ppára-quedista e dois agentes da PIDE, seguindo até Nacala e depois para uma prisão na ilha do Ibo. Por outros casos antecedentes, receei pela minha vida. E não fora a boa aceitação da exposição que mandei para Lisboa, que deu origem a um longo e complicado processo de averiguações, onde cerca de 40 testemunhas, escolhidas dum grupo de mais de 150 que se dispuseram a defender-me, não sei o que teria sido o futuro. 

 

Por decisão do comandante Tenente-coronel Argentino Seixas, fui proibido de usar armas militares até ao fim do processo disciplinar, que ficou parado enquanto se desencadeou a audição de testemunhas num “Inquérito” determinado pelo Chefe de Estado-Maior da Força Aérea. A pedido do Comandante de companhia, capitão Mascarenhas Pessoa, passei a desempenhar funções de vague-mestre, dando boa assistência alimentar ao pessoal da companhia, durante as missões operacionais em Maúa, Macomia e Mocimboa do Rovuma. Ao fim de oito meses, por acordo entre as partes, foi encerrado o “inquérito”, ilibando-me de quaisquer responsabilidades.

Para atenuar o meu desconforto, o comandante determinou que o chefe da secretaria me concedesse “guia de marcha” para gozar licença na metrópole, onde acabei por estar dois meses. Aproveitei para visitar cinco países da Europa, à conta do chefe do conselho administrativo, que tinha desviado uma avultada quantia em dinheiro através das “saídas” para alimentação em zona operacional, sob a minha vigência de vague-mestre.

 

Curiosamente, em 2004, durante uma palestra na Quinta de Bonjóia, no Porto, encontrei-me com o então padre da Paróquia de Mueda, Faustino Limbombo. Ao ouvir a sua apresentação nessa conferência, apercebi-me que o mesmo nasceu precisamente na aldeia que pretendíamos assaltar e destruir. Disse que a mãe teve que fugir da tropa portuguesa e caminhar até outra aldeia mais a sul junto à mesma ribeira Nango, perto de Muidumbe; que isso aconteceu quando ele tinha oito dias de vida. Dos croquis e diário de missão que levava comigo e referentes a essa data, chegamos à feliz conclusão de que, a ser consumada a vontade do tenente Gonçalves, o padre Faustino seria uma das vítimas desse assalto. Há situações que nunca chegarão a ser esclarecidas como neste caso. 

 


Juntamente com um grupo de 67 Antigos Paraquedistas que combateram em Moçambique, em 2005 desloquei-me até Mueda, onde encontrei o Padre Faustino na difícil lide com os fiéis da sua paróquia, que percorre, por picadas e estradas, de bicicleta ou de motorizada, consoante tenha ou não dinheiro para a gasolina. Fazia os percursos até Nangade e Mocimboa da Praia, todas as semanas.

A nossa comitiva transportou grande quantidade de material escolar que entregámos à Associação de Combatentes pela Independência de Moçambique e ao Padre Limbombo, além de medicamentos e dinheiro (meticais e euros) como agradecimento por terem providenciado a limpeza do cemitério militar de Mueda, onde repousam mais de duzentos militares Portugueses, num deplorável e vergonhoso estado de abandono.

 

Repórter:  Joaquim Coelho

 

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 https://picadasdamicaia.blogs.sapo.pt/?tc=126241917433

 

 


 


 


 


 

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Os Combatentes e o Futuro dos nossos Netos

 NOTA PRÉVIA:

Por se tratar de uma reflexão abrangente das vidas dos Combatentes das guerras africanas e comparação com o futuro dos nossos netos e gerações vindouras, trago à consideração dos leitores um texto de profunda preocupação e consequências nos modos de vida das pessoas nascidas nos séculos XX e XXI.

Comungo destes princípios de análise de âmbito cultural, social e cívico, pela sua dimensão na formação da sociedade comunitária, para o que procuro contribuir com empenho desmedido com vista a um mundo mais igualitário, esclarecido e mentalmente livre para pensar e agir na senda de melhores condições de vida. 

 

Angelino Santos Silva (a)

16-01-2

NÓS, OS COMBATENTES.

“E O FUTURO DOS NOSSOS NETOS?”- Jota Coelho

• PORQUE NOS TORNARAM PROSCRITOS?


1. Para responder à questão, temos de recorrer à História, não só à que nos diz directamente respeito, mas também à dos nossos pais, ou seja, à história do país do séc. XX.

 A vida é um somatório de passos por caminhos sinuosos com encruzilhadas à mistura. Por vezes temos dúvidas quanto ao caminho a tomar, porém, temos consciência de que temos de prosseguir por um. Noutros, alguém os escolhe por nós sem apelo nem agravo e poucas saídas nos restam para o evitar e sempre com custos elevados.

Nós, os Combatentes pertencemos a este último grupo: perante a maior encruzilhada que a vida nos reservou, alguém nos traçou o caminho e sem qualquer recurso, tivemos que o percorrer.

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Vamos aos factos históricos.

A nossa Geração nasceu no período compreendido entre o início da II Guerra Mundial e poucos anos após o fim da mesma, ou seja, entre 1941 e 1953. Olhamos à distância de 70 ou 80 anos e sentimos um amor incomensurável pelos nossos pais, que nasceram no período compreendido entre o fim da Monarquia e os princípios da I República.

Enquanto miúdos, víamos o enorme sacrifício que faziam para nos subtrair a um estilo de vida de grande dificuldade que lhes era imposto pelo Estado Novo. Nessa época quase metade da população portuguesa era analfabeta, principalmente nas aldeias, sendo que – analfabeto - significava apenas não saber ler e escrever com desenvoltura, porque da vida e do trabalho os nossos pais eram mestres: aos dez anos iniciavam uma profissão, aos vinte sabiam quase tudo sobre a mesma e aos trinta eram mestres na arte que escolheram para ofício. Para um país retrógrado como era o nosso, tal capacidade e empenho significava uma enorme riqueza, não aproveitada por um regime que mantinha pobre o seu povo e fazia da emigração, ou antes, dos dinheiros enviados pelos emigrantes, o seu pote de ouro. Porém, beneficiaram os países que acolheram a emigração, aproveitando a mão-de-obra barata depois do descalabro da II Guerra Mundial.

 

 

Por cá, o esforço e empenho dos nossos pais, também não foram aproveitados por quem tinha o dever de melhorar o nível social do país e acompanhar o desenvolvimento social da Europa do pós-guerra mundial. Aproveitamos nós - seus filhos - cada um por si e todos criamos condições para melhorar a vida de nossas famílias. E assim aconteceu: perante cada encruzilhada que nos foi surgindo após o Serviço Militar, não tivemos grandes dúvidas em escolher um caminho, sempre com os olhos postos no exemplo de nossos pais: os que continuaram a estudar após a 4ª classe (o ensino básico era obrigatório até aos 14 anos para quem reprovava) fizeram-no com o intuito de arranjar o melhor emprego possível e os que foram trabalhar legalmente após os 14 anos de idade, fizeram-no com o mesmo propósito. Todos melhoramos substancialmente as nossas vidas, criamos as bases para erradicar o analfabetismo e os nossos filhos têm hoje um razoável nível de vida. Parte significativa é licenciada e alguns já exibem um doutoramento. Porém, os seus filhos – nossos netos – estão nos antípodas das gerações de seus avós e pouco sabem sobre a nossa missão enquanto Combatentes na Guerra Colonial em África. Tudo é diferente nesta Nova Geração. Aparentemente, os miúdos do Século XXI – aos quais designo por Geração de Cristal – têm tudo ao seu alcance, mas na realidade, perante uma encruzilhada que lhes surja pela frente, já não têm tanta certeza, como a tiveram os seus pais e avós. É claro, que não é por culpa própria, mas sim pelas decisões políticas erradas tomadas pelas elites governantes, que a pretexto de salvar a “economia” criam dificuldades inultrapassáveis para a maioria das pessoas. Esta nova forma de “olhar o mundo“ e geri-lo sob um conceito estritamente económico, - o mesmo que dizer, proteger interesses dos mais ricos - está a transformar a vida dos jovens em uma “caixa de pandora”. No ensino, parte dos cursos académicos estão desajustados às necessidades do tempo actual e de pouco servem aos licenciados, que se veem obrigados a aceitar um emprego para o qual não estudaram, precários e mal remunerados. Além da frustração que tal opção acarreta, os jovens tornam-se permeáveis aos problemas de foro psíquico e o recurso aos antidepressivos é cada vez mais frequente. Portugal é um dos países da Europa com maior prevalência do número de doenças psiquiátricas. No primeiro semestre de 2022 os portugueses compraram perto de 10,9 milhões de embalagens de ansiolíticos, sedativos e antidepressivos, o que representou um encargo para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) de cerca de 32,5 milhões de euros. Em média, venderam-se mais de 59.732 embalagens de ansiolíticos, sedativos, hipnóticos e antidepressivos por dia, totalizando 10.871.282 nos primeiros seis meses do ano, o que representa um aumento de 4,1% face ao mesmo período de 2021 (10.439.500), segundo dados do Infarmed. 


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A pandemia veio acelerar este consumo, sendo que nos jovens se verificou o maior aumento.

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Ao prosseguir nesta forma de “olhar o mundo” ou seja, sob orientação puramente económica, chegaremos a 2030 com uma juventude sem perspectivas quanto ao futuro, com um curriculum académico puramente administrativo que pouco serve, sem emprego ou com emprego mal pago, insuficiente para fazer face à vida. Chegados aqui, teremos a Geração de Cristal transformada na “Geração dos Nem, Nem” ou seja, Nem estudam, Nem trabalham, porque mais vale viver de subsídios. Se isto não for corrigido, a geração dos nossos netos será confrontada com um recuo civilizacional de um século e chegará ao tempo da Monarquia.

2. É muito importante que falemos aos nossos netos. É muito importante que lhes expliquemos, por que motivo existe desde o 25 de Abril, um esforço da parte dos governantes em ignorar os Combatentes e se possível, fazer deles, cidadãos Proscritos ou seja, banidos da História de Portugal.

3. Este esforço tem sido feito por todos os governos com maior ou menor disfarce e todos comungam do mesmo objectivo: passar em branco as páginas da História da Guerra Colonial e nela, a dos Combatentes.

4. Cabe-nos, não permitir que tal objectivo tenha sucesso. Como fazer isso? Escrever. Escrever muito sobre nós, Combatentes.

5. Porque o tempo não pára e porque estamos confrontados com a verdade inquestionável da idade, deparamos com uma nova e derradeira encruzilhada: escrever sobre nós, utilizar as redes sociais falando sobre nós, porque no ensino escolar ninguém o faz.

6. Os nossos filhos também não, porque ao longo da vida familiar pouco falamos sobre a nossa presença em África, absorvidos que estávamos – tal como os nossos pais – a trabalhar para lhes dar um nível social melhor do que o nosso.

7. Entre nós falamos muito, facto que por vezes causava espanto aos nossos familiares, quando nos acompanhavam aos Encontros Anuais e encontros de ocasião.

8. Mas devemos falar mais, porque o tempo urge. Seremos hoje cerca de 250 (580) mil, número com algum impacto, se unidos, coisa complicada num país que se uniu para derrubar o Estado Novo, mas logo se dividiu nas artimanhas dos políticos.

9. Porque, parte significativa de nós anda entre os 70 e 80 anos – os mais velhos já ultrapassaram este limite – daqui a 10 anos seremos talvez, menos de 50 mil, porque segundo as estatísticas é na idade dos 80 em diante que morre mais gente. Não fugiremos a esta realidade, até porque em cima de nós vieram algumas mazelas que nos causaram desgaste físico e psíquico.

10.  De abril de 74 para cá, temos andado divididos entre religião, futebol e política. Tem sido este o desenho bem aproveitado pelos políticos, que sabem que quem não tem potencial para fazer lóbi, fica irremediavelmente para trás. E assim tem acontecido e acontece com os Antigos Combatentes, disfarçado com esmolas que “desarmam” alguns.

11.  Se nos achamos injustiçados e entendemos fazer alguma coisa, está na hora de encontrar o caminho, porque o tempo urge e já não teremos outra encruzilhada pela frente. Esta será a última das nossas vidas.

 

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• Quanto à pergunta, PORQUE NOS TORNARAM PROSCRITOS?

A resposta é fácil: depois de manipuladas e arregimentadas as gerações que fizeram a Guerra Colonial e por consequência, a divisão do grupo de Capitães/Combatentes, que se tinham unido para derrubar o Estado Novo, nenhum dos governantes conheceu a guerra colonial portuguesa em África.

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Um abraço a todos Combatentes.

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Angelino dos Santos Silva - (a) Escritor

Combatente na Guerra Colonial Portuguesa na Guiné-Bissau