Todas as guerras têm dois lados
Em tempo de conflitos e guerra, as maiores vítimas são os inocentes.
O jornalismo noticioso independente tem grandes dificuldades em sobreviver aos nefastos efeitos da informação controlada pelos poderosos. Somos inundados de informações repetitivas até à exaustão. Sentimos a comunicação social amarrada à perversão do imediatismo lamacento e tendenciosamente programado para deformar a informação disponível e livre das pressões corporativas dominantes, arrumando para debaixo do tapete os graves problemas da sociedade, especialmente no aumento do custo de vida, na delinquência juvenil e a degradação dos serviços públicos essenciais.
Mas ainda vemos alguns artigos que merecem ser lidos e vale a pena meditar com a lucidez da mente iluminada e racional. Os silêncios sobre estas questões agradam ao poder político e estigmatizam as populações desoladas com a falta de soluções para as suas dificuldades de sobrevivência.
Perante o conflito na Ucrânia e os problemas de mobilidade causados, os caminhos para a Paz são prioritários e urgentes, porque milhões de pessoas sofrem e morrem nos horrores da guerra; mas, perante o comportamento dos governantes interventivos no conflito ucraniano e o melindre da situação da segurança mundial, percebemos que as soluções perigosamente irracionais e com efeitos práticos e temporais inadequados demonstram desprezo e desamor pelas populações dos países que representam, considerando que o prolongamento da guerra só causa mais destruição e mortos.
Esperamos que uma onda de bom-senso e alteração dos interesses mesquinhos da desforra ilumine as mentes dos intervenientes com poder de decisão para que coloquem a vida das pessoas num patamar mais humanista e avancem corajosamente nos caminhos da paz e da segurança universal.
A hipocrisia das Sanções... VER:
https://www.youtube.com/watch?v=dBIiz4HlXlI
https://www.youtube.com/watch?v=yXaxFxOXC6A
https://www.youtube.com/watch?v=yFmiWE2E3U4
https://www.youtube.com/watch?v=HMIsQ_6Abmo
“A Ucrânia está seguindo os manuais de guerra psicológica dos EUA” (Pedro Baños)
Polêmica na TV espanhola. Coronel do exército denuncia manipulação midiática contra a Rússia: “Se falamos de desinformação, neste país há gente que trabalha para serviços de inteligência estrangeiros que estão publicando nos principais jornais e aparecendo nos meios de comunicação que são panfletos da OTAN”. Considerado um dos maiores especialistas em Geopolítica e estratégia militar da Europa, o coronel Pedro Baños afirmou que “o regime de Zelensky está seguindo os manuais de guerra psicológica dos EUA”, a quem não interessa um acordo que encerre o conflito. Presença frequente em alguns dos programas de maior audiência da TV espanhola, como “Horizonte” e “Al Rojo Vivo”, o coronel (que vem recebendo ameaças nas redes sociais por suas opiniões dissonantes) anunciou que não participará mais de nenhum programa de TV sobre a Ucrânia.
O humanismo ocidental é decente?
Pedro Tadeu – DN 09 Março 2022
Por ser um bom cidadão do mundo ocidental condeno a invasão russa da Ucrânia, participo em manifestações contra Putin, choro os mortos de Kiev, comovo-me com o drama dos refugiados ucranianos, sou solidário com as vítimas da brutalidade russa e recuso comprar produtos russos. E faço-o com convicção.
Mas isto não chega, isto é humanismo genérico, serve para qualquer um em
qualquer parte do mundo - o humanismo ocidental é especial, o humanismo
ocidental é único, o humanismo ocidental é original, o humanismo ocidental
exige mais de mim...
O humanismo ocidental é seletivo: ignorou os 12 mil haitianos enviados
pelos Estados Unidos para a prisão de Guantánamo e a invasão do país em 1994;
ignorou a instigação e a participação da NATO nas guerras da Jugoslávia e os
seus 150 mil mortos; ignorou as duas Guerras do Golfo, a mentira que desculpou
uma delas e os 100 mil mortos diretos que os combates provocaram; ignorou mais
100 mil mortos que o Iraque "protegido" pela coligação internacional
lá instalada provocou; ignorou a presença norte-americana durante 20 anos no
Afeganistão e os 65 mil mortes que ali ocorreram; ignorou os envolvimentos,
desde 2001, diretos ou indiretos, de forças ocidentais na Síria (estimam-se 400
mil mortes); ignora o que se passa na Somália e no Iémen; ignora a ocupação da
Palestina por Israel e, nos últimos anos, os 21 500 mortos desse conflito.
O humanismo ocidental tem coração mole para um lado e coração de pedra para
o outro. As guerras espalhadas pelo mundo com envolvimento do Ocidente somam,
em 30 anos, quase um milhão de mortos, a grande maioria civis, mas o bom
cidadão ocidental não chora por eles.
O humanismo ocidental é dúbio. Condena vigorosamente a prisão do opositor
de Putin, Alexei Navalny, mas deixa apodrecer na cadeia o denunciador das
brutalidades das tropas americanas e da NATO, Julian Assange.
O humanismo ocidental é criterioso. Manifesta-se quando críticos de Putin
são envenenados no estrangeiro mas arquiva no esquecimento o cientista inglês
David Kelly que, misteriosamente, suicidou-se dois dias depois de depor no
parlamento sobre a falsificação de provas da existência de armas de destruição
maciça no Iraque. E o jornalista que deu essa notícia em primeira mão foi
despedido.
O humanismo ocidental é esclarecido. Classifica a imprensa estatal russa de
instrumento de propaganda "tóxica" mas glorifica o World Service da
BBC, pago pelo Ministério dos Estrangeiros britânico e onde muitos jornalistas
portugueses que lá trabalharam foram obrigados, durante décadas, a pedir
autorização superior para fazer qualquer tipo de entrevista... e essa
autorização só vinha depois de lida a lista de perguntinhas a fazer!
O humanismo ocidental é dinâmico. Indigna-se aos gritos com a censura de
Putin ao jornalismo independente, mas refila baixinho quando proíbem a Russia
Today de emitir no Ocidente ou quando os potentados das redes sociais, que
ninguém controla, filtram o que o povo pode ou não pode dizer.
O humanismo ocidental enerva-se com a brutalidade policial contra
manifestações políticas em países longínquos e contra as prisões
indiscriminadas de gente comum, mas cala-se, conformado, quando isso é feito
nos seus países contra os que recusam vacinar-se, contra os que exigem direitos
para os negros, contra os sindicalistas, contra os imigrantes pobres e de pele
escura. O humanismo ocidental já nem se lembra de George Floyd.
O humanismo ocidental é espertalhão. Explica todas as intervenções
militares do Ocidente no resto do mundo com a necessidade de defender a
democracia, o contexto histórico e sociológico das regiões, as tensões
estruturais das economias locais, as rivalidades das religiões, as divisões
tribais, as fronteiras mal definidas, a selvajaria dos ditadores locais. Mas
para comentar a guerra ucraniana só aceita começar a análise por um facto:
Putin invadiu no dia 24 de fevereiro o país de Zelensky. Falar do que está para
trás, dos 13 mil mortos do Donbass, do crescimento da NATO para leste, por
exemplo, é trair a Ucrânia, é trair o Ocidente, é trair a humanidade - e se o
fazes, és mesmo má pessoa!
O humanismo ocidental é ingrato. Garante que a Rússia não é do Ocidente,
exige que ignoremos 2 mil anos de cristandade partilhada, as leituras de
Dostoiévski, Tolstoi, Tchekhov, Gorki; as músicas de Tchaikovsky, Stravinsky,
Shostakovich, Prokofiev; os filmes de Eisenstein, Tarkovsky; os pensamentos de
Bakunine, Lenine ou Trotsky. O humanismo ocidental acredita que nada deve do
que é à Rússia.
Eu adoro os valores teóricos do humanismo ocidental, são um exemplo para o
mundo, a sério, mas não aguento a constante prática violenta do humanismo
ocidental, uma vergonha neste mundo, a sério.
Jornalista