domingo, 12 de setembro de 2021

Vida difícil para o Cidadão comum

 Portugal no Desenvolvimento Mínimo

Por nos merecer atenção e de interesse para os cidadãos aqui fica o artigo de opinião do jornal “O Chocalho”:

 

SE MESSI VIER PARA PORTUGLA JÁ PODE TIRAR O CARTÃO DE CIDADÃO NO ALANDROAL

 12 DE AGOSTO DE 2021 -  DOMINGOS LOPES

Portugal deixou há cerca de um mês e meio a Presidência da União Europeia, a União mais avançada do Planeta, diz-se.

No próximo mês de novembro, Lisboa vai ser capital do Web Summit. São aguardadas mil comunicações e participarão mil duzentas e cinquenta start-ups.

No solo de Marte máquinas estadunidenses e chinesas escabulham o solo daquele Planeta.

Os multibilionários da Terra dão passeios aeronáuticos fora da gravidade e voltam.

No Alandroal, na Conservatória do Registo Civil, enquanto aguardava pela emissão de certidões de óbito e nascimento que não podiam ser obtidas online, um casal e dois filhos esbaforidos aguardavam a sua vez para tratar do cartão de cidadão. Tinham saído de Lisboa muito cedo para chegar a tempo de tratar dos cartões, pois em Lisboa não havia vaga em qualquer conservatória.

E como também precisavam de obter os passaportes dos filhos iam de escantilhão do Alandroal para o Entroncamento para tratar dos respetivos documentos, embora morassem em Lisboa. Percorreram mais de duzentos quilómetros e continuariam a volta a meio Portugal para o Entroncamento, mais cerca de cento e oitenta quilómetros e regresso a Lisboa mais cento e vinte.

Enquanto os robôs escavavam o solo de Marte, este casal gastou doze horas porque em todas as Conservatórias em redor de Lisboa até um raio de mais de cem quilómetros não aceitavam o encargo.

A mim já me sucedera com o pedido do registo criminal no ano passado. Impossível obtê-lo em tempo útil. Consegui- o no Tribunal de Redondo a cento e oitenta quilómetros de Lisboa.

Os governos de Portugal deviam ter mais humildade e em vez de proclamar grandes avanços de modernidade serem capazes do mínimo dos mínimos – assegurar aos cidadãos a obtenção e renovação do cartão de cidadão.

A causa desta situação tem a ver com a míngua imposta à função pública impedindo a entrada de novos funcionários para substituir os que saem.

Um país que não é capaz de assegurar este mínimo dos mínimos não cativa os seus cidadãos, antes lhes causa raiva face à impotência de obter documentos absolutamente indispensáveis em pleno século vinte e um.

Como o país fugiu para o litoral, os serviços tendo menos funcionários implodem e não é tida em conta a nova situação.

Há nesta realidade algo de doloroso. Só que essa realidade impõe que se não desista e em vez de os cidadãos se atirarem aos seus compatriotas dos Serviços, deviam com toda a prontidão exigir o cumprimento dos deveres do Estado.

Será que a tal bazuca contempla o reforço destes Serviços para que os meios disponíveis sejam bem empregues e respondam a necessidades tão prementes como esta ou Bruxelas não deixa porque segundo a sua bitola ainda há funcionários públicos a mais?

No Cosmos, em Marte, máquinas comandadas da Terra prosseguem as suas pesquisas. Lisboa incapaz de renovar cartões de cidadão vai receber o Web Summit. Finalmente é conhecido o destino de Messi e os media respiraram de alívio, não fosse ele ficar sem cartão de cidadão.

NOTAS ESPECIAIS:

1 – Precisei de tirar Cartão de Cidadão, só havia vagas passados 3 meses e 12 dias!

2 – Para renovar Carta de Condução, tinha vaga dois meses e 8 dias depois de caducar!

3 – Por diversas vezes me dirigi aos serviços de atendimento nos concelhos vizinhos do Porto, até que consegui ser atendido para tirar Cartão de Cidadão.

4 – Nas ocasiões que me desloquei aos serviços notei que, parte das vezes, não havia pessoas para atender, por terem faltado à marcação… até que um funcionário das Finanças, com grande resistência, me atendeu; fiquei espantado com a sobranceria: “estava comodamente no posto de trabalho, onde nunca tive tanto tempo para tomar cafés e comer uns petiscos, e vem gente como o senhor sem marcação quebrar a rotina”. Triste povo que tão mal servido estás!


Mas o problema já vem de longe e, na maior parte dos casos, não é por falta de pessoal! É falta de organização dos serviços e disposição para trabalhar a sério, respeitando os humildes cidadãos:

Bem vindo à Loja do Cidadão: 22 horas de espera

Alexandre R. Malhado 24 de junho de 2019

A SÁBADO esteve duas madrugadas nas filas das Laranjeiras e Odivelas, em Lisboa, e encontrou desespero. O Governo culpa a "opção sistemática dos cidadãos pela procura dos mesmos locais no mesmo período."

Quando cheguei à Loja do Cidadão das Laranjeiras, em Lisboa, no dia 23, o sol ainda não tinha nascido. Era pouco depois das 6h da manhã e já havia uma fila de quase 40 pessoas no exterior do edifício, que só viria a abrir daí a duas horas e meia. Estava frio, 12 graus, e homens e mulheres de todas as idades abrigavam-se como podiam da madrugada ventosa. O primeiro da fila estava enrolado em cobertores, sentado numa confortável cadeira de escritório, enquanto jogava Candy Crush num tablet - como chegou pelas 3h da manhã, "tinha de se distrair de alguma maneira". "Tenho de arranjar documentos muito urgentes das Finanças e da Segurança Social. Vim cedo porque já sei como isto funciona", explicou o homem de 40 anos, que preferiu não ser identificado. O seguinte da fila meteu-se na conversa, interessado: "Já estou aqui desde as quatro e tal e é a terceira vez em sete meses que faço uma loucura destas", disse José, um cidadão inválido que não sabe porque tem a sua reforma indeferida.

À medida que a conversa se desenrolava, a fila ia crescendo e, pelas 8h, já dava a volta ao quarteirão. "É melhor o senhor ir para a bicha. Isto vai demorar", disse José. Respirei fundo e fui para o fim. Caminhava e olhava atentamente para as centenas à minha frente, mentalizando-me de que ia perder dois dias de vida em filas de serviços do Estado, naquele dia nas Laranjeiras e no dia seguinte em Odivelas. E assim foi: só viria a ser atendido pela Segurança Social sete horas e 10 minutos depois e precisei de cinco horas para pedir o Cartão de Cidadão.




segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Jornalistas Ignorantes e Mentirosos

 

DEIXEM QUE A HISTÓRIA FAÇA O SEU PERCURSO NATURALMENTE, SEM SOFISMAS

A história sem Sofismas: a propósito dos mexericos sobre pretensos massacres desencadeados pelas tropas portuguesas nas guerras ultramarinas, recentemente publicados em dois jornais cá do burgo.

Não podemos ficar indiferentes e quedos, mas temos de repor a verdade e limpar o lixo que existe na cabeça dos mais renitentes no olhar vesgo e desfocado da história. Quando mais de um milhão de homens foram atirados para as guerras coloniais, ninguém se preocupou em saber da sua preparação militar nem das carências das famílias que se viram privadas dos proventos que as sustentavam. Também, depois do regresso, não houve o cuidado de dar o devido e necessário apoio e acompanhamento médico e social aos mais vulneráveis e com visíveis sequelas na sua saúde.

Ora, nos 14 anos de guerra, esses mancebos tiveram exemplares comportamentos em todos os locais onde permaneceram, nas tarefas que lhes foram atribuídas e no relacionamento com as populações autóctones. Tudo o resto que se queira apontar de negativo não passa de tentativa para ofuscar a generosidade e a grandiosidade das nossas contribuições para o desenvolvimento geral daquelas terras e de melhoria da vida das populações.

O colossal desenvolvimento dos territórios, com infraestruturas, colonatos agro-pecuários e agrícolas, as estradas, as pontes, os portos marítimos, as linhas de caminho de ferro, as fábricas, as escolas, os hospitais marcam um tempo de esperança num futuro de indesmentível progresso para todas as populações, independente da cor ou da raça.

As grandes obras construídas pelos portugueses, tais como barragens e pontes, em especial a barragem de Cabora Bassa, são um valioso espólio que jamais será esquecido. Este colosso de engenharia implantado no coração de África, com cinco turbinas (produção de 415MW cada), produz energia equivalente às sete maiores barragens existentes em Portugal (13 vezes a Barragem do Castelo de Bode) e pode fornecer energia eléctrica a um quarto da população do continente africano. E ninguém fala dessa grandiosa façanha dos portugueses em África, onde ainda trabalham técnicos portugueses para manter em funcionamento tal colosso.

Essa cambada de parasitas, armados em investigadores das lixeiras que o curso da história foi deixando nas sargetas, tal como os escaravelhos, não são recicláveis. Mas, se alguns abusos aconteceram entre as tropas, foram casos pontuais, residuais e marginais perante o importante desenvolvimento da sociedade e extraordinários avanços na coesão social e cívica.

Por mais que tentem denegrir a imagem e desvalorizar os feitos e a generosidade de uma geração de mancebos portugueses, reconhecidos e referenciados por jornalistas de renome internacional e por estadistas sérios e livres, jamais conseguirão apagar as memórias e as qualidades humanas dos combatentes portugueses e de quem com eles conviveu e partilhou parte da vida. Além do mais, respeitem os milhares de mortos e os estropiados causados pelas guerras ultramarinas; sem esquecer os que “ficaram para trás”, abandonados, por lhes negarem o repatriamento com a dignidade que merecem.

20 de Agosto de 2021

Temas actuais – Joaquim Coelho








































domingo, 5 de setembro de 2021

O CERCO à Liberdade

A Doutrina Rumsfeld-Cebrowski

“Para prevenir qualquer revolta com antecedência, não é hoje preciso recorrer à violência. Os métodos de Hitler estão desactualizados. Para o conseguir, basta criar um condicionamento colectivo suficientemente forte para que a ideia de revolta nunca chegue a aflorar à mente das pessoas. O ideal seria que cada cidadão pudesse ser formatado de nascença, limitando as suas capacidades biológicas inatas, através da manipulação genética. Mas, para obter o condicionamento colectivo, nem é preciso chegar a tanto, basta reduzir drasticamente o nível da educação, transformando-a num mero meio de integração profissional. Um indivíduo sem educação fica com um horizonte de pensamento limitado e quanto mais o seu pensamento estiver confinado a preocupações medíocres, menos ele terá capacidade para se revoltar. Deve-se, pois, garantir que o acesso ao conhecimento seja cada vez mais difícil e elitista; que se crie uma enorme distância entre as pessoas comuns e a verdadeira cultura e a verdadeira ciência; que a informação destinada ao público seja anestésica e livre de todo conteúdo “subversivo” que o possa levar a pensar. Sobretudo, nada de filosofia e religião. Aqui, novamente, é necessário fazer uso da persuasão e não da violência directa: devem ser transmitidos às massas, pela televisão, entretenimentos que promovam constantemente o emocional e o instintivo; devem-se ocupar os espíritos com o fútil e o lúdico. É necessário que, com o ruído constante do palavreado opinativo e o barulho omnipresente de música, se impeça as mentes de pensar. A sexualidade e o prazer têm de ser colocados na vanguarda dos interesses humanos pois não há melhor tranquilizante social. Deve-se, por isso, promover a sexualização dos jovens desde a infância e assegurar o livre acesso a todo o tipo de práticas sexuais. No geral, deve-se fazer tudo para banir toda a seriedade da existência humana, zombar de tudo que se refira a valores mais altos, fazer a constante apologia da vulgaridade, para que a euforia própria da publicidade se torne o padrão da felicidade humana e o modelo de liberdade. Este condicionamento produzirá, assim, uma tal “inclusão” do individuo no sistema que o seu único medo – que deverá ser continuamente fomentado – será o de poder ser, dele, excluído deixando de ter acesso às condições que julga necessárias para a felicidade. O homem massa, assim formatado, poderá facilmente ser tratado como aquilo que na realidade se tornou: gado. E deverá ser vigiado como se vigia um rebanho. Tudo o que possa enfraquecer (desumanizar) a sua lucidez deve ser considerado socialmente bom e “inclusivo”; tudo que possa acordá-lo do seu torpor deve ser ridicularizado, sufocado, combatido, demonizado. Qualquer doutrina que desafie o sistema deve ser rotulada de subversiva, extremista, terrorista; e aqueles que a apoiem devem ser tratados como tal.”

“Günther Anders, “The Obsolescence of Man”, 1956


Só os que já perderam a lucidez não se deram conta das mudanças rigorosamente implementadas. A apatia e o conformismo são o nosso maior inimigo na sociedade controlada.
 
 


 

Ora, como sempre na vanguarda do que pode limitar a “liberdade”, aqui está o oportunismo dos que nos tentam oprimir - governantes!

Muita atenção ao “cerco”:

"No dia 8 de Maio de 2021, foi promulgada pelo Presidente da República a “Carta de Direitos Humanos na Era Digital” que estabelece um novo Direito de “protecção contra a desinformação”, e que institucionaliza e legaliza a censura, através de uma Entidade Reguladora e não dos Tribunais, de pessoas singulares ou colectivas que “produzam, reproduzam ou difundam” narrativas consideradas pelo Estado como “desinformação.”

No dia 17 de Julho entrou em vigor!



quinta-feira, 26 de agosto de 2021

O DESPERTAR dos COMBATENTES...

 Extracto do Livro, passado em Angola

Trigésimo Sexto Capítulo    

                   Um CORPO... em forma de MÚMIA!

         Mais de uma semana após o incidente nas matas de Quimaria, fui encontrar os dois feridos no Hospital Militar em Luanda. O Fontes estava com tantas ligaduras que mais parecia uma múmia em estado deplorável – aguardava melhoras para poder aguentar a viagem para o hospital da Estrela, em Lisboa. Percebia-se que ainda estava inconsciente, e o que restava do seu corpo moribundo flutuava entre a vida que o metabolismo celular se esforçava por regenerar e a morte que pairava por cima da cabeceira da cama em forma de aparelhagem com apetrechos para ginástica!

       Para o Fontes, a vida tem várias vias: depois de ilibado da reclusão, onde passou os piores dias isolado na escuridão das masmorras húmidas, seguiu com os demais combatentes para as rotineiras missões de combate. Mais uma vez a sorte esteve arredada do seu caminho e, nesta encruzilhada da vida, foi ferido com gravidade. Agora, preso à cama do hospital, tanto pode melhorar e chegar ao convívio com a família, como pode escorregar para a sepultura, sem que sequer saber o que lhe aconteceu! De qualquer forma, já não regressará à metrópole inteiro.

        O Caetano, que levou uma chusma de pedaços de metal ferrugento no traseiro, quando saltava abaixo da viatura e se virava no ar, prevê-se que continue em Luanda até estar curado. Estendido na cama mesmo ao lado do Fontes, não se sentia muito confortável ao ver o companheiro coberto de ligaduras, ainda em coma, e com a vida segura por tubos. Mesmo assim, sente-se afortunado por estar vivo. E não estranha que o dr. Soudo tenha tanto pessoal nas consultas que antecedem as missões no norte; são já muitos meses de incertezas e o pessoal tenta esquivar-se. É um arrastar de sapatilhas de pés pretensamente doridos... Mas o médico não tem contemplações e, das largas dezenas de “doentes”, considera apenas dois ou três incapazes de seguir para o mato. 

     Só depois de ter saído do hospital e me ter sentado à entrada do Hangar Velho a meditar, pude compreender toda a profundidade das palavras do Caetano e as razões dos seus lamentos: “Esta ânsia de sofrimento aumenta a minha angústia. Quando olhei o Fontes atrás das grades, senti o impulso para a revolta que me fez repudiar os mentores daquela ingratidão contra homens dignos e corajosos. Agora, enclausurado neste hospital, com muitas incertezas quanto ao futuro e sem forças para protestar contra a ansiedade desmedida, sofro por mim e por ele; se não fossem os ténues sinais de vida daquela «múmia», mais pareceria estar a viver ao lado dum fantasma... Às vezes, fico amedrontado na noite escura!”

      Não é fácil descrever as viagens perigosas e patéticas que, em consequência da guerra, somos obrigados a fazer por essas terras do Norte onde os ataques inimigos deixam marcas irreparáveis. Por vezes, encontramos soldados do Exército num estado psíquico confrangedor. As carências são muitas e o desânimo aterrador. Será isto o “supremo sacrifício pela pátria?” O preço das vidas e o custo dos materiais estão a conduzir o país, pobre e inculto, à ruína; as nossas aldeias sofrem os efeitos do contraste com a modernidade que se vislumbra nos outros países.

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             AS PUNIÇÕES... E O RECONHECIMENTO!      

        Luanda – Depois de detidos na Casa de Reclusão de Luanda durante alguns meses, veio o resultado dos processos de averiguações de cujas conclusões da Secção de Justiça deram punições a cinco dos dezasseis presos, conforme se transcreve:

 

“ORDEM DE SERVIÇO nº. 153, de 28-6-962, do BCP21

... (3) Agravada para 40 (quarenta) dias de prisão disciplinar agravada a punição de 20 (vinte) dias de igual pena aplicada pelo Com.te do BCP21 ao 1º. cabo gradº. paraq. nº.... C. ALVES, “por ter sido um dos mais activos organizadores de uma reunião de praças pára-quedistas onde se discutiram assuntos e se tomaram decisões altamente atentatórias da disciplina e ter elaborado uma petição anónima, para conhecimento do Comando, onde se focavam as decisões tomadas na reunião”.

(5) Agravada para 40 (quarenta) dias de prisão disciplinar agravada a punição de 20 (vinte) dias de igual pena aplicada pelo Com.te do BCP21 ao sold. paraq. nº. ..../RD - ORLANDO “por ter sido um dos mais activos organizadores...”

(4) Agravada para 40 (quarenta) dias de prisão disciplinar agravada a punição de 20 (vinte) dias de igual pena aplicada pelo Com.te do BCP21 ao 1º.cabo paraq. nº. .../59 – J. VALENTIM, “por ter sido um dos organizadores de uma reunião de praças pára-quedistas, onde se discutiram assuntos e se tomaram decisões altamente atentatórias da disciplina e em seguida ter concordado com a apresentação ao Comando de uma exposição anónima onde se focavam as decisões tomadas na reunião efectuada”. Infringiu(ram) os nºs. 4º., 26º., 27º. E 49º. Do artº.4º. do R.D.M..”

 g. Condecorações, Louvores e Citações

(1) Pelo Secretário de Estado da Aeronáutica foram concedidos os seguintes louvores:

   a).............................................................................

d) Desde o início das hostilidades, em Angola, as Tropas Pára-quedistas têm vindo a distinguir-se por acções valorosas, praticadas em campanha, revelando, no cumprimento de difíceis missões, a rija têmpera que lhes fortaleceu o corpo e lhes moldou a alma – a têmpera que forja o verdadeiro militar.

Aceitando as desvantagens provocadas pelas condições do meio ambiente, orientando, com calma, visão e bravura a sua acção em combate, enfrentando, com decisão, entusiasmo e abnegação as dificuldades e evidenciando extraordinária resistência física e moral, os homens do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas nº. 21 têm sabido, em todas as circunstâncias, elevar bem alto as virtudes que são apanágio da sua profissão.

O aprumo, dignidade e elevação que exibiram na cerimónia de entrega da bandeira à sua unidade são mais um testemunho de que as Tropas Pára-quedistas continuarão a cumprir para além do dever.

Assim, manda o Governo da República Portuguesa, pelo Secretário de Estado da Aeronáutica, louvar os oficiais, Sargentos e Praças do batalhão de Caçadores Pára-quedistas nº. 21, pelas altas qualidades demonstradas e pelos relevantes serviços prestados à Pátria.” 

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                   ACHINCALHADOS E EXPULSOS

         Depois de cumpridas as penas, os cinco pára-quedistas foram expulsos das fileiras das forças armadas. Na sequência da prisão dos elementos mais activos, o sargento Marco foi perseguido e achincalhado pela Pide. Primeiro, através de armadilhas montadas com uma menor que o seduziu e ele escorregou na calçada... e comeu-a; depois foi o escândalo dos processos jurídicos movidos pela família da miúda, em conluio com as autoridades. Para agudizar o escândalo, os elementos da Pide pressionaram, fizeram propostas indecorosas e difamaram a esposa do Marco até exaustão, deixando-a chegar ao desespero e às portas do suicídio. Por fim, pelo facto de ser “agente duplo”, aplicaram-lhe a pena de três anos de degredo no Forte de Penamacor. 

      Surpresa atrás de surpresa, apareceu a notícia de que o sargento era “colaborador” da Pide e fazia parte do processo dos bailes “pelados”! Curiosamente, esses factos não causaram tanto espanto como o caso do alferes do exército, que desapareceu! O tal que abandonou os camaradas na zona da CUCA!

      Porém, estas medidas azedaram mais as relações entre os colonos matumbos e a tropa que era insultada, humilhada e mal vista nas cidades; daí, o aumento de incidentes com as autoridades policiais de Luanda. Especialmente nas zonas dos bares nocturnos, as cenas de pancadaria são mais frequentes.

      Também temos os homens da Pide à procurava da “quinta coluna”! É visível a sua presença nas esplanadas das cervejarias a observar e a seguir pára-quedistas. Mas estes, em vez de os correrem a murro e a pontapé, como há um ano, preferem a calma das esplanadas e as cervejas refrescantes; e, de quando em vez, deliciarem-se no aconchego das mulheres bonitas e fogosas. Pois, sabem bem o que custa andar de mochila às costas e sofrer os tormentos das privações e dos perigos que as zonas de guerra comportam.

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                      SINAIS INQUIETANTES

       Consta que vão ser reduzidas as colunas de reabastecimento aos acampamentos do Norte e que vão regressar ao Sul os destacamentos dos Voluntários. Numa altura em que se está a criar mais confiança e segurança para o regresso das populações e dos administradores de posto às zonas de conflito, nem ao diabo lembrariam tais planos. Entretanto, as tropas continuam nas suas missões de patrulhamento dos itinerários e batidas às matas que possam abrigar os terroristas.

      A selva dormia as horas da noite que uma aragem deixava deslizar até de madrugada quando, finalmente, os pássaros tocaram a alvorada. Os olhos ainda turvos cravaram-se no morro que o dia oferecia, numa pesquisa aos abrigos dos bandidos. Os últimos sinais não deixaram ninguém tranquilo! Só nos meses de Março a Maio, seis emboscadas nas picadas para a Damba, três minas que rebentaram com viaturas nas estradas de Quitexe para Quissenzele e para o Dange, oito ataques de morteiro a acampamentos do exército nas povoações de Muxuluando, Dimuca e Songo e emboscadas do Songo para o Bembe deixaram um rasto de destruição e um clima de medo!

      Os mortos e os feridos resultantes deste recrudescer de ataques marcam uma inquietante tragédia na luta contra o terrorismo do Norte de Angola. E nem é bom pensar em deixar estes bandidos sem resposta até ao mês de Agosto.

      Perigosamente, os responsáveis pelos planos das operações, estão longe de perceber que as realidades do terreno estão muito distantes dos planos arquitectados nos gabinetes. Em certas missões, somos atirados para o meio da mata, sem qualquer hipótese de comunicação com o exterior, por dificuldade das transmissões. Naturalmente que, em caso de feridos graves, só resta esperar a morte! Sendo assim, parece que são os incompetentes, mascarados de pantomineiros, a ditar a sorte das tropas que comem o pó das picadas longas e bebem o suor que escorre pelo rosto, ficando sujeitos à sua sorte! Essa sensação de desconhecimento das realidades é mais evidente quando determinam missões apeadas em locais tão inacessíveis que o tempo é sempre a dobrar para chegar ao fim. O esforço asfixiante reduz a eficiência e aniquila a vontade de avançar, quando o desgaste é inútil.

      Também podemos discordar da forma como estamos a defender interesses de países estrangeiros, que se apropriam das riquezas alheias. As últimas concessões negociadas com as empresas, especialmente do petróleo e do manganês, são o corolário de outros negócios em que Portugal fica apenas com direito aos residuais do lixo. Ainda mais grave, quando existem indícios de que parte dessas empresas ajudam a financiar os terroristas, com a conivência de administradores residentes em Angola.

      E se tudo isso é verdade, o nosso sofrimento parece ser um pecado que nos deixa a consciência corroída pelo remorso! Mas a coacção para a continuidade da guerra, que põe o país moribundo e deixa a tropa ser espezinhada por esses interesses próximos, também pode catalisar os arrepios sofridos impiedosamente no meio das matas dando-lhes o impulso para lutarem com determinação contra os vendilhões da pátria, na certeza de que esses criminosos negociadores das vidas alheias hão-de cair no fundo dos infernos.

      As notícias da imprensa estrangeira contrastam com a sonolência dos jornais portugueses. Mesmo em Luanda, as notícias das agências internacionais são cortadas logo à saída do telex. O desassombro com que o Jornal do Congo trata alguns assuntos pode merecer o nosso aplauso, a falta de rigor e lucidez com que trata as questões angolanas denota uma forma astuciosa de camuflar o que de mais sério deveria ser analisado: a guerra que envolve algumas dezenas de milhar de soldados tirados da pacatez das suas aldeias e lançados no meio das matas e enclausurados dentro de autênticos campos cercados de arame farpado, entre o céu dos dias amenos e o inferno dos dias de canícula, sempre com os bandidos a controlar o espaço exterior.

      Para o Jornal do Congo, as guerras de poder enfadonho são um ultraje aos jovens que todos os dias se debatem com o sofrimento físico e psíquico que as situações de perigo e constante isolamento provocam. Enquanto isso, as grandes empresas estrangeiras vão surripiando as matérias-primas mais ricas de Angola, usufruindo de espantosos lucros com essa exploração. E os que andam na guerra continuam a sofrer e a morrer por uma “Angola é nossa”!

 

APONTAMENTOS DO FERRAZ:

Julho de 1962 – As agências de notícias internacionais, informaram que o presidente do MPLA, Agostinho Neto, já está em Leopoldeville a dinamizar o seu grupo de guerrilheiros para acções mais eficazes contra a ocupação portuguesa.

      É mais um sinal da disputa dos interesses estratégicos entre os dois grandes blocos políticos – os americanos com a UPA/FNLA e os russos com o MPLA.

      Tropas portuguesas mataram o principal comandante da ELNA (braço armado da UPA), João Batista, responsável pelas acções dos bandidos na região do Bembe. Foi treinado na Tunísia e na base de Kinkusu, no Congo.

Por Joaquim Coelho, Repórter de guerra