domingo, 6 de novembro de 2022

Inteligências: Humana ou Artificial

 

Falta de contacto humano é o problema da inteligência artificial, diz Noam Chomsky

Noam Chomsky e Gay Marcus foram dos últimos oradores do palco principal da Web Summit, a decorrer em Lisboa, com uma conversa sobre o futuro da inteligência artificial. Ambos creem que o elemento humano está em falta.

 Mariana Ferreira Azevedo 04 de Novembro de 2022

 Uma coisa é certa tanto para o linguista Noam Chomsky como para o cientista Gary Marcus: a inteligência artificial (IA) ainda não é capaz de entender a linguagem do ser humano. Tanto o linguista como o cientista pensam que esta não está a contribuir para o desenvolvimento da sociedade. 

Noam Chomsky até deu o benefício da dúvida e disse que nem tudo era mau. "O facto de eu poder estar aqui hoje é algo que eu considero positivo" disse o linguista, que se juntou ao palco principal da Web Summit, no último dia do evento, por videoconferência. "Mas não devia enganar as pessoas já que a IA não é capaz de entender a linguagem humana". 

 O linguista explica que o objetivo principal, inicialmente, era usar a capacidade do IA para aprendermos algo de cognição, ou seja, como o cérebro humano pensa, mas esse objetivo foi substituído ao longo dos anos. Noam Chomsky criticou a inteligência artificial por recorrer muito a técnicas de estatística que fazem com que as características escolhidas sejam as mais frequentes, o que faz com que nem toda a gente esteja representada.

Gary Marcus vai mais longe e diz que a IA seguiu um mau caminho ao se afastar da linguagem do ser humano. Segue uma base de dados que é até demasiado antiquada por se basear em comportamentos do ser humano até hoje. "Isto poderia perpetuar preconceitos como o racismo e machismo" acrescentou o cientista. 
A inteligência artificial pode ainda espoletar outros males menores, como fazer que as pessoas gastem muito dinheiro "com coisas desnecessárias ou que não funcionam", disse, ao dar o exemplo dos carros com autonomia da Tesla. "Estes não funcionam, estão a tentar desenvolvê-los há tanto tempo e ainda podem falhar", explicou Gary Marcus. 
Quando questionado sobre qual seria a melhor maneira de prosseguir e pôr a IA a trabalhar para as pessoas o cientista referiu que se devia envolver a inteligência artificial simbólica, uma abordagem que treina inteligência artificial da mesma forma que o cérebro humano aprende.

 

Noam Chomsky concordou, mas acrescentou que também se tem que ter em conta os progressos já conquistados na área tecnológica e melhorar o nosso entendimento das nossas capacidades cognitivas. 

OPINIÃO:

Muito se tem especulado sobre uma possível intervenção da China para mediar o conflito, mas Noam Chomsky não vê interesse de Pequim em envolver-se na questão. "Eles percebem tão bem como nós que houve sempre um caminho para evitar a catástrofe" e que "ainda é possível satisfazer o principal objetivo de Putin de forma a beneficiar toda a gente e sem violar direitos fundamentais. Mas também veem que o governo dos EUA não está interessado nisso", contrapõe. Por outro lado, o caminho da China passa por integrar o resto do mundo no seu sistema de investimento e desenvolvimento e em particular no Sul Global, "alvos tradicionais da brutalidade europeia e norte-americana", onde a perceção da tragédia na Ucrânia não é a mesma do que na Europa ou EUA, aponta Chomsky.

 

 

 Avram Noam Chomsky: é um linguista, sociólogo, cientista cognitivo, filósofo analítico e ativista político norte-americano, reverenciado em âmbito académico como "o pai da linguística moderna”.

 Chomsky e as 10 Estratégias 

de Manipulação Midiática

O linguista e jornalista americano Noam Chomsky elaborou a lista das "10 estratégias de manipulação" através da comunicação social do sistema:

1- A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO.

O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. "Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')".

2- CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES.

Este método também é chamado "problema-reação-solução". Cria-se um problema, uma "situação" prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3- A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO.

Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.

4- A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO.

Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo "dolorosa e necessária", obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que "tudo irá melhorar amanhã" e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

 5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE.

A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? "Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver "Armas silenciosas para guerras tranqüilas")".

6- UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL 

MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO.

Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e pôr fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos.

7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE.

Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. "A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossível para o alcance das classes inferiores (ver 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')".

8- ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE.

Os programas educacionais criados sob directrizes da nova ordem, tendem a desvalorizar as capacidades criativas e a inteligência de modo a promover ao público os conhecimentos básicos e fazer acreditar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto.

9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE.

Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!

10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS 

DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM.

Nos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o "sistema" tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos. Assim, o controlo das populações fica muito mais facilitado.

Los Angeles, Outubro de 2008