A Europa e os governantes gananciosos
Esta Europa de gente de muitas origens, que se guerrearam durante séculos, foi berço de grandes filósofos e eruditos pensadores, eixo das mais influentes culturas mundiais, sustentáculo de ilustres artistas da música e do espectáculo, modelo de civilizações fascinantes e acolhedoras, sofreu os efeitos de duas grandes guerras, com muitos milhões de vidas destruídas. Mas, entre alguns nobres estadistas, apareceram muitos governantes sem visão humanista ou sedentos de tenebrosos poderes e apetites de conquista de terras alheias, devido às quais, causaram gravosos sofrimentos e imensuráveis prejuízos aos seus povos. As gananciosas campanhas de conquista acabaram em catastróficas derrotas militares, enormes mortandades e terríveis sofrimentos das populações.
Ora, pelo que vemos hoje, os governantes estão cada vez mais longe das populações, seguindo políticas redutoras de direitos dos cidadãos, bem como atentatórias das boas práticas sociais e melhoria de vida. Por razões que a maioria da população desconhece, seguem doutrinas dos poderosos interesses financeiros globalistas, numa permanente e sequencial dinâmica destrutiva dos mais elementares valores da sociedade humanista, igualitária e solidária, fundamentada na coesão social da família.
Então, vamos à história:
Para manterem o poder sobre as populações desprotegidas e pobres, os reis, imperadores, czares e outros soberanos das nações criaram feudos e nomearam vassalos a quem distribuíam partes dos seus territórios em troca de serviços e apoio militar. Para quem conhece a Europa, talvez se interrogue porque existem tantos castelos e fortalezas medievais espalhadas por todos os cantos, os mais aprazíveis e produtivos, nesta Europa milenar. Não existe, noutras partes do mundo, nenhum espaço onde as famílias poderosas se tenham protegido da disseminação das heranças como na Europa. Os arranjos casamenteiros mais disparatados e incongruentes aconteceram com as dinastias mais influentes e ricas da Europa.
Ora, entre os soberanos, há sempre alguém mais ganancioso e sonhador de impérios grandiosos. A sua vontade de expansão era tão forte que se esqueceram das severas condições climatéricas das terras que pretenderam conquistar, e foram derrotados, inexoravelmente, pelo implacável “general inverno”.
1 – O desastroso fim do Império da Suécia:
O rei Carlos XII da Suécia, após derrotar a Saxónia, a Dinamarca e a Polónia, aliados do czar Pedro I da Rússia, tentou invadir a Rússia em 1708. Entretanto, a política de terra queimada dos russos e o severo inverno de 1708 e 1709 resultaram na morte de grande parte do exército sueco. Na Batalha de Poltava, no rio Vorskla, confronto durante a Grande Guerra do Norte, travado no dia 9 de Julho de 1709 perto da cidade de Poltava, entre as forças do Czarado da Rússia, lideradas pelo czar Pedro I, contra o exército do Império Sueco, sob o comando do marechal de campo Carlos Gustavo Rehnskiöld, morreram mais de 250 mil soldados.
Embora a guerra tenha durado ainda muitos anos, com avanços para o rio Dnieper, alcançando a Ucrânia, em busca de mantimentos e outros recusros de sibrevivência, Carlos XII deslocou-se para Baturin, sede de Mazepa, onde teve escaramuças com as tropas russas sob o comando de Aleksandr Menchikov. Este desaire, a juntar à derrota em Poltava, ditou o destino da Suécia que, a partir de então, entrou em declínio como potência militar, ocasionando a ascensão do Império Russo, neste domínio.
2 – O Fatal fiasco da Invasão de Napoleão à Rússia
Era um belo dia de sol quando os soldados da França cruzaram o rio Neman, na atual fronteira da Polónia com a Lituánia, aos gritos de "Vive l'Empereur!", na confiança de serem o maior e mais temido exército que o mundo havia visto. Estavam ali para dar uma surra, não para guerrear - o inimigo só tinha um terço das suas forças e estava dividido.
Eram 690 mil soldados de várias nacionalidades, dos quais só 300 mil eram franceses. Os demais eram poloneses, austríacos, italianos, prussianos e até 2 mil portugueses, recrutados entre simpatizantes do Imperador Napoleão Bonaparte.
Como era comum na época, seguia com eles um cortejo de comerciantes, prostitutas, médicos e até esposas e filhos dos militares. Nem soldados, nem civis, nem Napoleão poderiam imaginar, naquela hora, que apenas um em cada sete deles voltaria vivo daquela campanha.
Aviso do passado
A Rússia não é para principiantes e isso não era segredo para Napoleão e seus soldados. Pouco mais de um século antes, em 1709, o rei Carlos XII, da Suécia, tinha perdido o seu exército na Rússia, morrendo de frio e fome. Por isso, o exército francês invadiu a Rússia no auge do verão, em 24 de Junho de 1812. E o verão foi o seu primeiro inimigo.
As temperaturas eram superiores a 30ºC, enquanto as noites duram apenas 3 horas - "aproveitando" esse sol todo, Napoleão fez seus soldados marcharem 112 km nos dois primeiros dias da campanha. A essa velocidade, as carroças de suprimentos ficaram para trás.
Desidratada pela caminhada e sem alimentos e água, a tropa viu-se forçada a beber dos riachos pantanosos da região, o que causou diarreias. As primeiras vítimas tombaram ao lado das fontes de água, e os soldados que vinham atrás também ficaram doentes.
A campanha prosseguiu assim: os russos a recuar, queimando tudo, os franceses sangrando lentamente de doenças, fome, sede, ataques de guerrilha e deserção em massa. "No caminho para Moscovo, ainda no verão, os franceses perdiam em média 6 mil soldados por dia".
Após mais uma fraca conquista na cidade de Smolensk, em 18 de agosto, Napoleão decidiu rumar para Moscovo e teve mais uma batalha com os russos. A mais sangrenta de todas as guerras napoleônicas, a Batalha de Borodino, em 7 de Setembro - dos 250 mil participantes, 80 mil morreram. Os russos recuaram mais uma vez, mas não foram aniquilados.
Em 14 de Setembro, Moscovo pertencia a Napoleão, que imaginou ter vencido, sentou-se no trono do Kremlin e esperou a rendição do czar. No mesmo dia, começou um incêndio, que os russos jamais admitiram ter causado, que destruiu 75% da cidade em 4 dias.
Napoleão teve então de reavaliar as opções. O seu exército estava enfraquecido e com moral baixa. As linhas de abastecimento foram cortadas. A rendição inimiga não dava mostras de acontecer. Após cinco semanas de acampamento sobre as cinzas da cidade, o imperador francês decidiu dar meia-volta e iniciar o retorno à França em 19 de Outubro. Junto aos soldados, seguiram uma lenta procissão de carroças carregadas de peles, prata, porcelana e seda — fruto dos saques.
Entretanto, os franceses tentaram chegar a Kaluga, onde poderiam encontrar alimentos para os homens e para os animais. Mas o exército russo, bem alimentado, bloqueou a estrada, e Napoleão foi forçado a recuar pelo mesmo caminho de onde tinham vindo desde Moscovo, através das áreas fortemente devastadas ao longo da estrada de Smolensk. Nas semanas seguintes, o grande armée sofreu golpes catastróficos como o início do Inverno Russo, a falta de suprimentos e constantes ataques de camponeses russos e tropas irregulares. Quando as restantes tropas do exército de Napoleão atravessaram o rio Berezina em Novembro, já só restavam 27 mil soldados; o grande armée tinha perdido 380 mil homens e 100 mil tinham sido feitos prisioneiros. Napoleão abandonou os seus homens e voltou a Paris para proteger a sua posição como Imperador e preparar-se para resistir aos avanços dos russos.
A tropa de Napoleão converteu-se num bando de desesperados. Os soldados atacavam os cavalos e a carne era comida crua. Em 14 de Dezembro, o esfarrapado exército de Napoleão chegou à Polónia. A coluna de tropa principal não teria mais de 22 mil soldados, dos 690 mil que entraram na Rússia. O total de sobreviventes é cerca de 100 mil, contando as outras colunas do exército. Pessoas, armas e cavalos podiam ser substituídos, mas o dano irrecuperável foi a reputação do invencível Napoleão, que acabou deposto e exilado na ilha de Elba (Itália) em 1814.
J. Lucas-Dubreton disse:
“Nas estradas geladas, luzidias como espelhos, os cavalos tombavam, obrigando-os a abandonar as carroças que transportavam o tesouro. Do norte chegava um vento gelado, capaz de queimar; o cano da espingarda escorregava nas mãos, a pele inchava, cheia de bolhas, e as extremidades dos dedos, duras e descoradas, pareciam bolas de marfim. Cobertos de trapos, o rosto desfigurado, infestados de vermes - fazia três meses que não trocavam de farda nem de roupa de baixo -, os antigos vencedores da Europa lutavam contra a agonia. Se adormecessem, era a morte. A natureza humana, exausta, desgastada pelo sofrimento, punha a sua desgraça a nu; já não havia hierarquia nem disciplina; só um egoísmo feroz; todos curvados sob o mesmo nível de miséria.”
3 - Fatalidades dos Europeus:
Para além de Napoleão, outros gananciosos governantes não aprenderam com os antecessores! Em 22 de Junho de 1941, Hitler invadiu a União Soviética, acreditando numa campanha fulminante que acabasse antes do inverno.
As tropas nazis chegaram às postas de Moscovo em Dezembro de 1941, mas veio o inverno e logo morreram mais de 150 mil alemães, em poucos dias. Em homenagem aos serviços prestados, os russos deram uma promoção ao seu inverno. Lá ele é conhecido como General Moroz - o temido General Inverno.
Operação Barbarossa
A invasão da União Soviética, designada por “Operação Barbarossa”, protagonizada pelas “Potências do Eixo” (Alemanha, Itália e Japão), iniciada em 22 de Junho de 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, foi projetada para alcançar os objetivos ideológicos da Alemanha nazi: conquistar a União Soviética ocidental, para que ela pudesse ser repovoada pelos alemães; usar os povos eslavos como força de trabalho escravo, para o esforço de guerra do Eixo; aproveitar as reservas de petróleo do Cáucaso e os recursos agrícolas dos territórios soviéticos.
Os países lutaram como parceiros de uma das duas principais alianças: a do Eixo ou a dos Aliados. Os três principais parceiros da aliança do Eixo tinham dois interesses em comum:
· a expansão territorial e a criação de impérios com base na conquista militar e no derrube da ordem internacional do período após a Primeira Guerra Mundial;
· a destruição ou a neutralização do comunismo soviético.
As Invasões:
Por volta das 03h15, em 22 de Junho de 1941, as forças do Eixo começaram a invasão da União Soviética com o bombardeamento das principais cidades da Polónia ocupada pelos soviéticos[ e uma barragem de artilharia nas defesas do Exército Vermelho em toda a frente. Os ataques aéreos foram conduzidos até Kronstadt, perto de Leninegrado, Izmail na Bessarábia e em Sevastopol, na Crimeia. Enquanto isso, as tropas terrestres atravessaram a fronteira, acompanhadas em alguns locais por quintas colunas de lituanos e ucranianos. Aproximadamente três milhões de soldados da Wehrmacht entraram em ação e enfrentaram um pouco menos de tropas soviéticas na fronteira.
Por volta do meio-dia, a notícia da invasão foi transmitida à população pelo ministro das Relações Exteriores soviético, Vyacheslav Molotov: "... Sem uma declaração de guerra, as forças alemãs entraram no nosso país, atacaram nossas fronteiras em muitos lugares ... O Exército Vermelho e toda a nação travará uma guerra patriótica vitoriosa pelo nosso amado país, pela honra, pela liberdade ... Nossa causa é justa". Ao clamar pela devoção da população à sua nação e não ao Partido, Molotov criou uma onda patriótica que ajudou as pessoas atordoadas a absorver as notícias aterradoras. Nos primeiros dias da invasão, o Alto Comando e o Exército Vermelho da URSS foram amplamente reorganizados, de modo a colocá-los no ponto de guerra necessário. Estaline não abordou a nação sobre a invasão alemã até o dia 3 de Julho, quando ele também pediu por uma "Guerra Patriótica ... de todo o povo soviético”.
Nos dois anos anteriores à invasão, a Alemanha e a União Soviética assinaram pactos políticos e económicos com propósitos estratégicos. No entanto, o Alto Comando Alemão começou a planear uma invasão da União Soviética em Julho de 1940, o que Adolf Hitler autorizou em 18 de Dezembro de 1940. Ao longo da operação, cerca de 4 milhões de soldados do Eixo, a maior força de invasão da história das guerras, invadiu a União Soviética ocidental ao longo de uma frente de 2.900 quilômetros de extensão. Além das tropas, a Wehrmacht empregou cerca de 600 mil veículos a motor e entre 600 mil e 700 mil cavalos. A ofensiva marcou uma escalada da guerra, tanto geograficamente como na formação da aliança dos Aliados ocidentais.
Operacionalmente, as forças alemãs conseguiram grandes vitórias e ocuparam algumas das áreas econômicas mais importantes da União Soviética, principalmente na Ucránia, e infligiu muitas mortes. Apesar destes êxitos do Eixo, a ofensiva alemã ficou paralisada na Batalha de Moscovo e, posteriormente, a contraofensiva do inverno soviético levou as tropas alemãs a recuar. O Exército Vermelho repeliu os golpes mais fortes da Wehrmacht e forçou os alemães despreparados a uma guerra de atrito. A Wehrmacht nunca mais criaria uma ofensiva simultânea ao longo de toda a fronteira Eixo-URSS. O fracasso da operação levou Hitler a exigir novas operações de alcance cada vez mais limitado dentro da União Soviética — como a Caso Azul em 1942 e a Operação Cidadela em 1943 — o que eventualmente também não deu certo.
O fracasso da Operação Barbarossa provou ser um ponto de viragem na sorte do Terceiro Reich. Mais importante ainda, a operação abriu a Frente Oriental, na qual foram usadas mais forças militares do que em qualquer outro teatro de guerra na história mundial. A Frente Oriental tornou-se o local de algumas das maiores batalhas, atrocidades mais horríveis e maiores baixas para as unidades soviéticas e do Eixo, o que influenciou o andamento da Segunda Guerra Mundial e a história subsequente do século XX. Os exércitos alemães capturaram 5 milhões de soldados do Exército Vermelho, a quem foram negados a proteção garantida pelas Convenções de Genebra. A maioria dos prisioneiros de guerra do Exército Vermelho nunca voltou com vida. Os nazis, deliberadamente, fizeram com que 3,3 milhões de prisioneiros morressem de fome, assim como um grande número de civis, através do "Plano Fome", que visava a substituir, em grande parte, a população eslava por colonos alemães. Os esquadrões da morte nazis e as operações de gaseificação assassinaram mais de um milhão de judeus soviéticos como parte do Holocausto.
Políticas raciais da Alemanha nazista
Já em 1925, Adolf Hitler declarou. em seu manifesto político autobiográfico Mein Kampf, que ele invadiria a União Soviética, afirmando que o povo alemão precisava garantir o espaço vital para a sobrevivência da Alemanha nas gerações vindouras. Em 10 de Fevereiro de 1939, Hitler disse aos seus comandantes do exército que a próxima guerra seria "puramente uma guerra de Weltanschauungen ... totalmente uma guerra popular, uma guerra racial". Em 23 de Novembro, uma vez que a Segunda Guerra Mundial já havia começado, Hitler declarou que "a guerra racial explodiu e esta guerra determinará quem deve governar a Europa e, com ela, o mundo". A política racial da Alemanha nazi , por conseguinte, foi declarada para matar, deportar ou escravizar a maioria das populações russas e eslavas e repovoar a terra conquistada com os povos germánicos. A crença dos alemães na sua superioridade étnica é evidente nos registos oficiais e visível nos artigos pseudo-científicos publicados em periódicos alemães da época, que abordavam temas sobre "como lidar com populações estrangeiras".
Consequências Históricas
A Operação Barbarossa foi a maior operação militar da história humana - nunca tantos soldados, tanques, armas e aeronaves foram usados numa única ofensiva. A invasão abriu a Frente Oriental da Segunda Guerra Mundial, o maior teatro de guerra durante esse conflito, e testemunhou confrontos violentos e destruição sem precedentes por quatro anos, que resultaram na morte de mais de 26 milhões de soviéticos. Mais pessoas morreram lutando na Frente Oriental do que em todas as outras batalhas de todo o mundo, durante a Segunda Guerra Mundial. Os danos, tanto para a economia quanto para a paisagem, foram enormes para a União Soviética, já que cerca de 1.710 cidades e 70 mil aldeias foram totalmente destruídas.
A Operação Barbarossa e o subsequente fracasso da Alemanha em atingir os seus objetivos mudaram a paisagem política da Europa dividindo-a em blocos oriental e ocidental. O vazio político deixado na parte oriental do continente foi preenchido pela URSS quando Estaline obteve as compensações territoriais de 1944-1945 e colocou o Exército Vermelho na Bulgária, Roménia, Hungria, Polónia, Tchecoslováquia e na parte oriental da Alemanha. O medo de Estaline, devido a qualquer ressurgimento do poder alemão e a sua desconfiança perante as antigas potências aliadas contribuíram para iniciativas soviéticas pan-eslavas e uma subsequente aliança de Estados eslavos.
Para os historiadores David Glantz e Jonathan House, a influência da Operação Barbarossa não atingiu apenas Estaline, mas os líderes soviéticos subsequentes, alegando que "coloriu" as suas mentalidades estratégicas pelas "próximas quatro décadas" e instigou a criação de "um elaborado sistema de Estados tampões e fantoches, projectados para isolar a União Soviética de qualquer possível ataque futuro". Como consequência, a Europa Oriental tornou-se comunista e a Europa Ocidental ficou sob o domínio democrático dos Estados Unidos, uma nação que estava incerta sobre as suas políticas futuras na Europa.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a Europa teve um “Plano Marshal”, orientado com apoio dos Estados Unidos da América, para a reconstrução. Na parte oriental, a União Soviética teve que se reconstruir com o esforço dos seus povos e recursos.
O renascimento dos blocos políticos foi inevitável, tal era a desconfiança entre os aliados ocidentais e orientais, evidente no tratamento dos apoios para a reconstrução dos países destruídos com a guerra – assim nasceram o Tratado militar da NATO e o Bloco militar do Pacto de Varsóvia.
Fontes: “Historiografia geral”, “Vikipédia”.