sexta-feira, 29 de julho de 2022

Vampiros do Petróleo ao ataque

 Guerras do Gás e do Petróleo

 JOÃO CAMPOS RODRIGUES  - SOL, 24/07/2022

O impopular Presidente americano, desesperado por petróleo saudita, visitou um regime que na sua campanha eleitoral apelidou de ‘pária’. Choveram críticas em Washington, incluindo do seu próprio partido, sobretudo após serem divulgadas as suas fotos com o príncipe herdeiro, Mohammad bin Salman, acusado de ser um tirano ‘psicopata’. 

Joe Biden, que proclama alto e bom som querer transformar a política externa americana num «eixo de democracias» contra o autoritarismo de Pequim e Moscovo, sentou-se à mesa com o governante absoluto da Arábia Saudita, que deteve dezenas dos seus próprios familiares e que mandou esquartejar um colunista do Washington Post, Jamal Khashoggi, concluiu a própria CIA.

 E, ainda assim, o Presidente americano parece ter voltado da sua visita a Jeddah de mãos a abanar, sem nenhuma promessa pública de um aumento da produção de petróleo. Mesmo tendo dado ao príncipe herdeiro saudita, Mohammad bin Salman, exatamente o que este desejava, o encontro de que precisava para se legitimar como o grande aliado de Washington na região, sendo fotografado batendo punhos com um Presidente americano que apelidara a Arábia Saudita de Estado «pária» durante a sua campanha presidencial.

Biden fez questão de frisar que visitara a Arábia Saudita, antes de seguir para Israel, de maneira a incentivar o seu Governo a respeitar os direitos humanos, não para pedir ajuda para enfrentar o aumento dos preços dos combustíveis nos Estados Unidos – algo que contribui para a histórica impopularidade do Presidente, que esta semana bateu no fundo nas sondagens, tendo a aprovação de somente 36% dos americanos, estando ainda pior do que o seu antecessor, Donald Trump, alguma vez esteve durante o seu conturbado mandato.

O Presidente dos EUA assegurou que falou do homicídio de Khashoggi com Bin Salman. Talvez não tenha surtido grande efeito, dado que o príncipe herdeiro se limitou a responder que Washington «fez os seus próprios erros», avançou o jornal saudita Al Arabiya, tendo Bin Salman lembrando a tortura de prisioneiros iraquianos na prisão de Abu Ghraib, em 2003, ou a morte da repórter americana Shireen Abbu Akleh, da Al Jazeera, em maio, às mãos das forças de segurança de Israel, um dos mais próximos aliados dos EUA.

Biden fez questão de frisar que visitara a Arábia Saudita, antes de seguir para Israel, de maneira a incentivar o seu Governo a respeitar os direitos humanos, não para pedir ajuda para enfrentar o aumento dos preços dos combustíveis nos Estados Unidos – algo que contribui para a histórica impopularidade do Presidente, que esta semana bateu no fundo nas sondagens, tendo a aprovação de somente 36% dos americanos, estando ainda pior do que o seu antecessor, Donald Trump, alguma vez esteve durante o seu conturbado mandato.

O Presidente dos EUA assegurou que falou do homicídio de Khashoggi com Bin Salman. Talvez não tenha surtido grande efeito, dado que o príncipe herdeiro se limitou a responder que Washington «fez os seus próprios erros», avançou o jornal saudita Al Arabiya, tendo Bin Salman lembrando a tortura de prisioneiros iraquianos na prisão de Abu Ghraib, em 2003, ou a morte da repórter americana Shireen Abbu Akleh, da Al Jazeera, em maio, às mãos das forças de segurança de Israel, um dos mais próximos aliados dos EUA.

É difícil imaginar que Bin Salman subitamente, impulsionado pelos gentis apelos de Biden, decida mudar de rumo. Afinal, falamos de um líder absoluto descrito pelo antigo nº2 das suas secretas, Saad Aljabri, como um monstro. «Estou aqui para soar o alarme quanto a um psicopata, um assassino no Médio Oriente com recursos infinitos», descreveu Aljabri em entrevista à CBS, saindo momentaneamene do esconderijo onde sabiamente se enfiou, após fugir do reino saudita, dias antes da visita de Biden. Bin Salman, recorrentemente comparado com os filhos de Saddam Hussein, conhecidos por massacrarem e até violarem com impunidade, «não tem empatia, não sente emoção, nunca o aprendeu pela sua experiência», apontou o antigo nº 2 das secretas sauditas. «E testemunhámos atrocidades e crimes cometidos por este assassino». 

Já em Washington, erguiam-se vozes furiosas com a visita de Biden a Bin Salman, inclusive dentro do seu próprio partido. Lembrando que o reino saudita é governado por «uma família que vale cem mil milhões de dólares, que esmaga a democracia, que trata mulheres como cidadãos de terceira classe, que assassina e prende os seus adversários», declarou o senador Bernie Sanders, que foi o grande adversário de Biden nas primárias a candidato presidencial democrata e é o rosto da ala esquerda do partido.


 

ECONOMIA

Corte de 15% do gás na Europa, um acordo para todos os gostos: Portugal consegue exceções, mas não a isenção total.

Anadolu Agency/Getty Images - 27 JULHO 2022

Os 27 chegaram a acordo para cortar 15% do consumo de gás até à primavera. Mas o compromisso fica marcado por várias exceções que se aplicam também a Portugal. No caso português, o corte deve ficar abaixo dos 7%. O governo quer ainda tirar partido do Porto de Sines para fornecer gás à Europa.

Fonte de poluição gravosa: com o transporte de gás liquefeito  dos Estados Unidos para a Europa, além de poluição dos navios (mais de 3 por dia a entrar, para transportarem o equivalente do gás que a Rússia fornece só para a Alemanha), não existem instalações adequadas para descarga e armazenamento nem gasodutos para os locais de consumo. Depois, temos grande agravamento dos custos do transporte, acrescidos com a construção de equipamentos de descarga e armazenaento, o que equivale a resultados catastróficos para as populações e ambiente.

VER resultados:

https://www.youtube.com/watch?v=yFmiWE2E3U4

NOTA: Alemanha reactivou as Centrais a carvão, para suprir a falta do gás russo! O custo de carregamento das baterias dos carros elécticos vão ser agravados e o "Plano" de redução das emissões poluentes anulado... o contrasenso dos decisores europeus... é um desastre previsível.




27 JULHO 2022 

Susana Frexes- correspondente em Bruxelas

O corte de 15% do consumo de gás na União Europeia é mesmo para avançar, de forma voluntária já a partir de 1 de agosto. No entanto, se isso não for suficiente para garantir a segurança energética europeia durante o Inverno, ou se Vladimir Putin mandar fechar a torneira do gás, o corte pode passar a obrigatório e praticamente todos os Estados-membros são chamados a reduzir o consumo.

O que há uma semana era inaceitável para Portugal, Espanha e mais de uma dezena de países, foi aceite esta terça-feira. Falhar o entendimento significava uma vitória de Moscovo, e, por isso, a reunião arrancou com pressão acrescida para o compromisso.

No entanto, o ministro alemão da Economia avisa para "um perigo": tantas exceções significam "burocracia", que pode causar lentidão na resposta em caso de crise". Só que Robert Habeck também sabe que, pior do que haver exceções, é não haver um acordo que garanta uma resposta unida da UE se o gasoduto Nord Stream - que está agora a 20% da capacidade - chegar aos 0%.



 JOÃO CAMPOS RODRIGUES - 24/07/2022

Os EUA são o ‘vencedor a nível energético’. Outras opções incluem Azerbaijão, Angola, Canadá ou Nigéria.

Os líderes europeus, por mais que endureçam o seu discurso em relação à invasão da Ucrânia, suspiraram de alívio com a reabertura do Nord Stream 1, a principal torneira de gás natural para a Europa, esta semana.

Bruxelas tenta desesperadamente procurar fontes alternativas de energia e Moscovo busca novos compradores, mas estes dois inimigos tão cedo não se livram um do outro.

Já os Estados Unidos aproveitam a oportunidade para expandir a sua presença no mercado europeu, apesar dos americanos enfrentarem um aumento significativo do preço dos combustíveis, afundando a popularidade de Joe Biden. 

«Quando pensamos nos vencedores e perdedores da guerra, os Estados Unidos são um vencedor em termos energéticos, porque aumentaram as exportações para a Europa», considera Carla Fernandes, investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) da Universidade Nova de Lisboa, especializada em segurança energética, à conversa com o Nascer do SOL.

«E os preços altos favorecem a produção de energias não-convencionais», aponta Fernandes, referindo-se a uma das especialidades do setor energético americano, o fracking, ou fraturamento hidráulico, uma técnica para produzir gás de xisto. 

Falamos de um processo com enormes custos ambientais, que envolve bombear químicos, água e areia de maneira a fraturar rocha, para chegar a reservas que não seriam alcançáveis de outro modo. Libertando pelo meio gases como metano, com um efeito de estufa até 25 vezes superior ao do dióxido de carbono.

Os Estados Unidos, receando o fim das reservas de combustíveis fósseis, apostaram forte nesta técnica, ainda que seja dispendiosa. O fracking começara a entrar em desuso devido a uma enorme quebra do preço do barril – iniciada em 2014, pensando-se que tenha sido orquestrada por membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEC) em parte com o propósito de inviabilizar o gás de xisto – mas voltou à mó de cima com a recuperação da pandemia e sobretudo com a invasão russa da Ucrânia.

«O gás de xisto compete com o gás natural mas a sua produção é muito mais cara, embora os custos tenham vindo a diminuir consecutivamente devido a avanços na tecnologia», explica Fernandes. Para ser vendido, claro que «tem de ser economicamente rentável. E neste momento é», salienta.

Desde o início da invasão, a Europa – desesperada por evitar financiar a máquina de guerra russa através da compra de gás natural, ou até evitar que o Kremlin lhe feche a torneira antes de encontrar fornecedores, enfrentando escassez energética – já bateu a Ásia como principal comprador de gás natural liquefeito (LNG, na sigla inglesa) vindo dos EUA, boa parte dele produzido a partir de gás de xisto. Aliás, projeta-se que os Estados Unidos vão tornar-se em breve o maior exportador mundial de LNG, estando as empresas energéticas americanas numa «corrida para tirar vantagem desta oportunidade», como descreve entusiasticamente o Oil Price, um site noticioso dedicado ao setor petrolífero. 

Alternativas

Não é só nos Estados Unidos que o entusiasmo é notório. Uma alternativa energética para a Europa poderia ser o Azerbaijão. Esta nação no Cáucaso, rica em reservas de combustíveis fósseis, ainda esta semana assinou um acordo com Bruxelas, procurando duplicar as suas exportações de gás natural para a União Europeia.

Falamos de cerca de 20 mil milhões de m3 de gás natural extra a chegarem à UE anualmente, através do gasoduto apelidado de Corredor Sul, ligando os campos petrolíferos azeris de Shah Deniz aos Balcâs. Pode parecer pouco relativamente aos 155 mil milhões de m3 de gás natural russo importados o ano passado pela União. Mas a ideia é que estes lucros possam servir para investir em oleodutos e infraestrutura, de maneira a fazer do Azerbaijão um dos grandes fornecedores da Europa. Não que isso não acarrete riscos geopolíticos também – ainda há dois anos os azeris invadiram o enclave de Nagorno-Karabakh.

Outras hipóteses colocadas em cima da mesa pela UE passam pelo Canadá ou países africanos como Angola, Nigéria ou Moçambique. No entanto, «se olharmos para todos esses fornecedores, não são mais do que os fornecedores habituais, aos quais a Europa tinha planeado comprar ou até já comprava», diz Carla Fernandes. O receio quanto à dependência energética da Rússia vem muito de trás, os planos para o evitar sucederam-se, sem grande sucesso. «Agora a Europa até ao final do ano vai conseguir?», questiona a investigadora. «Acho um bocado difícil». 

Talvez a melhor possibilidade para a Europa arranjar novos fornecedores energéticos seja África, considera Fernandes. «Porquê, porque precisam mais de capacidade de investimento», explica. «Claro que isso não pode fornecer a Europa na sua totalidade». Para não falar nas dificuldades no transporte, nos custos adicionais de liquefazer gás ou na necessidade da Europa expandir terminais de LGN. Mas, ainda assim, «é mais fácil conseguir aumentar a produção em África do que em países como o Azerbaijão», considera a investigadora.

 Ver o resultado:

https://www.youtube.com/watch?v=kKgRT0NcN-Q

 

As vantagens de Putin e os dilemas de Zelensky

Os ucranianos mantiveram a capital, mas capitularam nos múltiplos campos de batalha do Leste e do Sul do país. Putin trocou o médio prazo da substituição do poder na Ucrânia pelo longo prazo da partição do seu território.

  Amílcar Correia 

24 de Julho de 2022

A Rússia não vai desanexar o que anexou em 2014. A Rússia não vai desocupar o que ocupou em 2022. Voluntariamente, não o fará. Os territórios no Leste e no Sul da Ucrânia que Moscovo controla e ocupa serão, inevitavelmente, anexados, com ou sem a farsa dos referendos. A vontade de expansão de Vladimir Putin é impossível de satisfazer e não terá retorno.