Atentos e Vigilantes, cortesia do Jornalista Domingos Lopes:
Podem os homens que têm tanto medo das mulheres governar o Afeganistão?
POR DOMINGOS LOPES no “Chocalho”
O movimento do chamado renascimento
árabe Al Bath na Síria e no Iraque, a FLN na Argélia com Houari Boumediene, no
Egito de Nasser, no Iémen do Sul são exemplos vibrantes de sociedades
renascidas da ocupação em que o papel das mulheres assumiu relevo.
Era perfeitamente possível ver nas ruas
do Cairo, Aden, Argel, Damasco ou Bagdad jovens namorados e casais de braço
dado e era muito raro encontrar mulheres nos centros urbanos de cara tapada com
hijabe ou nicabe e muito menos com burca.
Na OLP era perfeitamente visível o
extraordinário papel das mulheres na luta mais geral do povo palestiniano pelo
direito a edificar o seu Estado livre e soberano da ocupação israelita.
Estes países tinham uma conceção do
Islão que permitiu aos movimentos de libertação nacional integrá-lo de forma
positivo nesse quadro político e sociológico.
O Afeganistão dos anos 60/70 era nesta
matéria um país ainda mais avançado nos grandes centros urbanos onde as
mulheres tinham o seu papel nos mais variados setores da vida económica, social
e cultural.
A partir dos anos oitenta, a Arábia
Saudita com todo o seu poderio financeiro e económico foi investindo um pouco
por todos os países árabes e muçulmanos grandes somas para difundir a sua
conceção fundamentalista e retrógrada do Islão. Financiavam a construção de
mesquitas, enviavam religiosos e acenavam com novos investimentos.
A Arábia Saudita espalhou por todo o
mundo muçulmano os seus pregadores e as suas escolas de difusão do wahabismo
sunita, a versão mais fundamentalista e retrógrada do Islão.
Com a invasão do Afeganistão pela URSS,
a Arábia Saudita investiu com os EUA somas incalculáveis de dólares no apoio
aos auto- designados mujahidins.
A implosão da URSS também contribuiu
para uma viragem do nacionalismo árabe para uma visão fundamentalista que a
Arábia Saudita impulsionou. Fez medrar uma nova guinada no sentido do mais
recalcitrante conservadorismo que foi da Al Qaeda ao Daesh, ao Hamas, e aos
talibans apoiados pelo Paquistão e saídos das entranhas da guerra contra a URSS
e que os EUA e a Arábia Saudita apoiaram.
Como sempre seguindo as peugadas da
História as criaturas foram nos seus desígnios muito para além dos seus
criadores.
A desastrosa invasão do Iraque criou em
todo o mundo muçulmano um desespero e uma revolta que muito contribuiu para
esta viragem nos valores do Islão dada a ausência de alternativas no plano das
políticas dos países árabes. O Islão apareceu aos muçulmanos como a sua única
identidade.
Esta nova visão misógina e retrógrada,
própria das sociedades tribais de mentalidade atrasada, foi promovida pela
Arábia Saudita.
O papel da mulher na Arábia Saudita
serviu também de inspiração aos talibans. Foi daquele país que se transpôs a
sharia para ser a lei fundamental, ou seja, a Constituição do país, a qual não
tem normas e resulta do que se diz do que o Profeta disse e de umas tantas
citações do Corão.
Na Arábia Saudita as mulheres para
estudarem precisam do parecer favorável de um familiar masculino, as Escolas
não são mistas; uma mulher que precise de uma intervenção cirúrgica tem de ter
o parecer favorável do familiar masculino mais próximo e têm obrigatoriamente
de ser vistas por médicas. Não podem andar na rua sós. Nas mesquitas em que
podem entrar, ficam atrás dos homens. O seu depoimento como testemunhas vale metade
do dos homens e no direito sucessório recebem metade do que recebem os
herdeiros homens. Já podem tirar carta de condução, mas não é fácil.
Os jiadistas sunitas beberam até a
última gota este fel/inferno que impõem às mulheres onde tomam o poder desconsiderando
e perseguindo-as como seres inferiores.
Os talibans acabam de criar o Ministério
da Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, encarregado de promover a pureza
da sharia.
Num mundo em que o tempo acelera, os
talibans vão tentar impor o regresso ao passado com todo o cortejo de horrores.
Não querem que as mulheres calcem sapatos para não ouvirem o barulho que fazem
as suas pernas a andar na rua porque os perturba.
Podem os homens que têm tanto medo das
mulheres governar um país? Vamos ver.