domingo, 12 de setembro de 2021

Vida difícil para o Cidadão comum

 Portugal no Desenvolvimento Mínimo

Por nos merecer atenção e de interesse para os cidadãos aqui fica o artigo de opinião do jornal “O Chocalho”:

 

SE MESSI VIER PARA PORTUGLA JÁ PODE TIRAR O CARTÃO DE CIDADÃO NO ALANDROAL

 12 DE AGOSTO DE 2021 -  DOMINGOS LOPES

Portugal deixou há cerca de um mês e meio a Presidência da União Europeia, a União mais avançada do Planeta, diz-se.

No próximo mês de novembro, Lisboa vai ser capital do Web Summit. São aguardadas mil comunicações e participarão mil duzentas e cinquenta start-ups.

No solo de Marte máquinas estadunidenses e chinesas escabulham o solo daquele Planeta.

Os multibilionários da Terra dão passeios aeronáuticos fora da gravidade e voltam.

No Alandroal, na Conservatória do Registo Civil, enquanto aguardava pela emissão de certidões de óbito e nascimento que não podiam ser obtidas online, um casal e dois filhos esbaforidos aguardavam a sua vez para tratar do cartão de cidadão. Tinham saído de Lisboa muito cedo para chegar a tempo de tratar dos cartões, pois em Lisboa não havia vaga em qualquer conservatória.

E como também precisavam de obter os passaportes dos filhos iam de escantilhão do Alandroal para o Entroncamento para tratar dos respetivos documentos, embora morassem em Lisboa. Percorreram mais de duzentos quilómetros e continuariam a volta a meio Portugal para o Entroncamento, mais cerca de cento e oitenta quilómetros e regresso a Lisboa mais cento e vinte.

Enquanto os robôs escavavam o solo de Marte, este casal gastou doze horas porque em todas as Conservatórias em redor de Lisboa até um raio de mais de cem quilómetros não aceitavam o encargo.

A mim já me sucedera com o pedido do registo criminal no ano passado. Impossível obtê-lo em tempo útil. Consegui- o no Tribunal de Redondo a cento e oitenta quilómetros de Lisboa.

Os governos de Portugal deviam ter mais humildade e em vez de proclamar grandes avanços de modernidade serem capazes do mínimo dos mínimos – assegurar aos cidadãos a obtenção e renovação do cartão de cidadão.

A causa desta situação tem a ver com a míngua imposta à função pública impedindo a entrada de novos funcionários para substituir os que saem.

Um país que não é capaz de assegurar este mínimo dos mínimos não cativa os seus cidadãos, antes lhes causa raiva face à impotência de obter documentos absolutamente indispensáveis em pleno século vinte e um.

Como o país fugiu para o litoral, os serviços tendo menos funcionários implodem e não é tida em conta a nova situação.

Há nesta realidade algo de doloroso. Só que essa realidade impõe que se não desista e em vez de os cidadãos se atirarem aos seus compatriotas dos Serviços, deviam com toda a prontidão exigir o cumprimento dos deveres do Estado.

Será que a tal bazuca contempla o reforço destes Serviços para que os meios disponíveis sejam bem empregues e respondam a necessidades tão prementes como esta ou Bruxelas não deixa porque segundo a sua bitola ainda há funcionários públicos a mais?

No Cosmos, em Marte, máquinas comandadas da Terra prosseguem as suas pesquisas. Lisboa incapaz de renovar cartões de cidadão vai receber o Web Summit. Finalmente é conhecido o destino de Messi e os media respiraram de alívio, não fosse ele ficar sem cartão de cidadão.

NOTAS ESPECIAIS:

1 – Precisei de tirar Cartão de Cidadão, só havia vagas passados 3 meses e 12 dias!

2 – Para renovar Carta de Condução, tinha vaga dois meses e 8 dias depois de caducar!

3 – Por diversas vezes me dirigi aos serviços de atendimento nos concelhos vizinhos do Porto, até que consegui ser atendido para tirar Cartão de Cidadão.

4 – Nas ocasiões que me desloquei aos serviços notei que, parte das vezes, não havia pessoas para atender, por terem faltado à marcação… até que um funcionário das Finanças, com grande resistência, me atendeu; fiquei espantado com a sobranceria: “estava comodamente no posto de trabalho, onde nunca tive tanto tempo para tomar cafés e comer uns petiscos, e vem gente como o senhor sem marcação quebrar a rotina”. Triste povo que tão mal servido estás!


Mas o problema já vem de longe e, na maior parte dos casos, não é por falta de pessoal! É falta de organização dos serviços e disposição para trabalhar a sério, respeitando os humildes cidadãos:

Bem vindo à Loja do Cidadão: 22 horas de espera

Alexandre R. Malhado 24 de junho de 2019

A SÁBADO esteve duas madrugadas nas filas das Laranjeiras e Odivelas, em Lisboa, e encontrou desespero. O Governo culpa a "opção sistemática dos cidadãos pela procura dos mesmos locais no mesmo período."

Quando cheguei à Loja do Cidadão das Laranjeiras, em Lisboa, no dia 23, o sol ainda não tinha nascido. Era pouco depois das 6h da manhã e já havia uma fila de quase 40 pessoas no exterior do edifício, que só viria a abrir daí a duas horas e meia. Estava frio, 12 graus, e homens e mulheres de todas as idades abrigavam-se como podiam da madrugada ventosa. O primeiro da fila estava enrolado em cobertores, sentado numa confortável cadeira de escritório, enquanto jogava Candy Crush num tablet - como chegou pelas 3h da manhã, "tinha de se distrair de alguma maneira". "Tenho de arranjar documentos muito urgentes das Finanças e da Segurança Social. Vim cedo porque já sei como isto funciona", explicou o homem de 40 anos, que preferiu não ser identificado. O seguinte da fila meteu-se na conversa, interessado: "Já estou aqui desde as quatro e tal e é a terceira vez em sete meses que faço uma loucura destas", disse José, um cidadão inválido que não sabe porque tem a sua reforma indeferida.

À medida que a conversa se desenrolava, a fila ia crescendo e, pelas 8h, já dava a volta ao quarteirão. "É melhor o senhor ir para a bicha. Isto vai demorar", disse José. Respirei fundo e fui para o fim. Caminhava e olhava atentamente para as centenas à minha frente, mentalizando-me de que ia perder dois dias de vida em filas de serviços do Estado, naquele dia nas Laranjeiras e no dia seguinte em Odivelas. E assim foi: só viria a ser atendido pela Segurança Social sete horas e 10 minutos depois e precisei de cinco horas para pedir o Cartão de Cidadão.