quarta-feira, 6 de novembro de 2024

O Futuro passa pela América

 

Carlos Fino apresenta:

O FUTURO SERIA UMA BOA IDEIA

por Viriato Soromenho-Marques

O desfecho das eleições nos EUA não irá alterar a colisão das nações do Atlântico Norte com a dureza do destino esculpido pelos seus próprios erros. Em 30 anos, Washington protagonizou todos os pesadelos que as suas maiores figuras históricas consideravam fundamental evitar. Contra os autores de O Federalista (1788) - Porque as paixões dos homens não se conformam com os ditames da razão e da justiça sem restrição. um dos 10 livros obrigatórios de filosofia política do Ocidente -, a categoria republicana da representação parlamentar, que deveria ser preenchida por um escol, eleito na base da honra e do intelecto, está hoje entregue a gente que faz do Congresso um lugar onde as leis são compradas e vendidas (John Rawls).

Contra F. D. Roosevelt (presidente entre 1933 e 1945), voz infatigável a favor da justiça económica e social como escudo contra o risco de fascismo (que ele temia em caso de regresso à concentração capitalista anterior ao crash de 1929), hoje, nos EUA campeia uma plutocracia obscena que tudo controla, desde a comunicação social ao sistema político, incluindo as eleições (veja-se como Kamala e Trump se encostam ao apoio dos bilionários).

Contra o duplo perigo, denunciado por Eisenhower na sua despedida presidencial em 1961, a saber, o do “pilhar” (plundering) da natureza capaz de ameaçar as gerações futuras, e o de deixar a defesa entregue a uma sinistra teia de interesses sem controlo democrático, o famoso “complexo- -militar-industrial”, o presente mostra-nos os EUA como um persistente obstáculo à cooperação internacional no combate à crise global do ambiente e clima, do mesmo modo que o seu negócio das armas transformou a diplomacia e a política externa na continuação da guerra por outros meios e em todos os lugares que lhes interessem.

Os EUA embarcaram, sem aparente retorno, na demencial desmesura de um poder, autocentrado, que se julga absoluto. Nem Kamala, nem Trump entendem o derradeiro apelo de Roosevelt aos norte-americanos, no dealbar de 1945, quando insistia na ideia de que todos deveriam aprender a ser “cidadãos do mundo” (e não seus donos…), ou a proposta de J.F. Kennedy em 1962, aos países europeus, para uma “Declaração de Interdependência”, que se alargaria à própria União Soviética, quando se tratou de impedir a aniquilação nuclear.

O que une quem manda nos EUA e na UE é um desespero crepuscular, da sua inteira responsabilidade. Para travar o inevitável, sacrificam-se vidas e valores. É indecente falar no Ocidente em direitos humanos, quando a desigualdade doméstica dos EUA resvala na pobreza, e se alimenta o genocídio e agressão perpetrados por Israel. Quando a nossa identidade se define pela fabricação e punição de “inimigos”, e não pelo poder inclusivo de um projeto de futuro, já entrámos no reino das sombras.

02-11-2024


 

NOTA de Autor: O futuro constrói-se com gente de confiança, gente que acredita na paridade dos poderes e disposta a olhar todas as pessoas como iguais, com direito a uma vida social e cultural inclusiva e satisfatória.

HOJE, ELEIÇÕES NO PAÍS DOS BANHOS DE SANGUE, ONDE CERCA DE 40 MIL CIDADÃOS SE MATAM E SUICIDAM A TIRO TODOS OS ANOS!

- salienta Alfredo Barroso, assustado com a possibilidade de os EUA saltarem "do lume para a frigideira" ou "da frigideira para o lume"...

 


Quanto custam as campanhas eleitorais nos EUA?

 As eleições nos Estados Unidos são das mais caras do mundo. As eleições presidenciais e para o Congresso dos EUA em 2020 custaram mais de 16 mil milhões de dólares; os especialistas dizem que o custo das eleições de 2024 será provavelmente muito mais elevado.


 

domingo, 12 de fevereiro de 2023

O Mundo à mercê dos Poderes ocultos.

ATENÇÃO, AMIGOS, 

para VER novos Posts, Clik na imagem:

 
 

NOTA-PRÉVIA:

    Os donos do Mundo, com a ganância de esmagar os poderes que lhes possam fazer frente na programada governação de todas as Nações, correm o risco de ficarem sem nada se continuarmos no caminho da confrontação bélica até à destruição do planeta.

    Por conhecer o Comandante José Luiz e por saber da sua longa experiência nas lides de comando em diversas intervenções militares da ONU, especialmente em defesa dos povos da antiga Iuguslávia, que se desmembrou a mando dos Estado Unidos da América e intervenção da NATO, aqui deixo um Relatório bem explícito sobre as potências militares ao serviço dos "clubes secretos", objectivos programados a longo e médio prazo, interferências múltiplas com pretensões de domínio geopolítico, geoestratégico e geoeconómico para dominar o mundo e escravizar todos os povos. 

 

    Ainda bem que temos alguns conhecedores das estratégias "ocultas" para nos mostrarem a realidade do que está em fermentação com vista ao domínio dos povos deste planeta há longos anos em disputa pelos potenciais impérios do mal. 

 


 Jose Luiz Costa Sousa – Relatório

em 19-01-2023

    2023. Este Novo Ano está já aí a correr as inevitabilidades das suas circunstâncias, do seu tempo histórico, dos seus mais relevantes eventos e, sobretudo, as inconsequências e consequências da generalizada maldade política humana, hoje prevalecente no Mundo e, muito especialmente na Europa, cada vez maior que jamais d´antes, como adiante no tempo se verá, maldade vestida e revestida de nauseativos fingimentos e mentiras, em que os maus e os vilões, pretendendo sempre ser os bons, usam dos seus órgãos de comunicação social em massa, para se endeusarem em infinitas bondades e humanidades, enquanto as suas vítimas são vilificadas, demonizadas, humilhadas e arrastadas para guerras, onde são física e politicamente terra queimadas, e tornadas culpadas de todos os males, sem de facto o serem, e tudo com falsidades disparatadas, para o efeito inventadas, ou em factos distorcidos baseadas.

Em questões de geopolítica, a mais das vezes, o que parece não é e o que é nunca o parece, é tudo arte da ilusão, da mentira pura e dura, da hipocrisia elevada à enésima potência… dela só se sabe, que tudo o que pela mesma é dito ou comunicado, não é semelhante a tal, e que, no mínimo, será o seu contrário, ou pior ainda.

    Em 2023 a tragédia maior da Europa e do Mundo é e continuará a ser, cada vez mais, a guerra que tem como teatro operacional o território ucraniano e, como combatentes, os povos das suas duas vítimas principais, os ucranianos e russos, dois povos irmãos, que se estão a chacinar mútua e acefalamente, forçados por potências que lhes são exteriores, porque lhes ambicionam os territórios e os riquíssimos recursos naturais, assim como buscam avidamente destruir-lhes e desmembrar-lhes os respectivos países, para os absorverem pela NATO e UE, depois de divididos em indefesas micro repúblicas, para deixarem de constituir obstáculos à manutenção das hegemonias mundiais e outras coisas que tais, objectivos maiores dos EUA, servidos e seguidos nesta demanda, cegamente, pela NATO e pela UE.

    Os objectivos da guerra que corre na Ucrânia são, pois, estes e apenas estes, o resto é conversa para boi dormir, como dizem os brasileiros.

    O contexto político militar em que tal guerra decorre, que conheço muito bem, por muitas e variadas razões, é complexo e de difícil compreensão real, para quem não tenha seguido e compreendido, politica e militarmente, todo o processo da guerra e pulverização da Jugoslávia, de 1991 a 95, que a dividiu em sete Repúblicas anãs, e os seus porquês e para quês, a implosão política da ex URSS em 1991, tudo seguido pelo processo de expansão da NATO em direcção às fronteiras imediatas da Rússia, iniciado pelo Presidente Clinton em 1997, contra os compromissos assumidos pela dupla NATO/EUA em 91 para com a Rússia, e que veio a integrar todos os países da Europa Oriental, saídos da ex URSS, excepto a Ucrânia, Geórgia, Moldávia, Bielorrússia, e, ainda e sobretudo, o “golpe de estado” concebido, planeado, financiado e executado pelos EUA na Ucrânia, de Dez2013 a Mar2014, o qual instalou um “governo dos EUA” na Ucrânia em Mar2014, a que se seguiram oito anos de instalação militar e política, dissimulada e contínua, da NATO e dos EUA dentro da Ucrânia, com a finalidade de a transformarem numa plataforma territorial avançada, sobre as fronteiras comuns com a Rússia, para a atacar e desmembrar, oportunamente.

    Em Dezembro de 2021, a dupla EUA/NATO considerou que era chegado o tempo de avançar para a fase da confrontação militar indirecta contra a Rússia, para a vencer, desmembrar e absorver, usando a Ucrânia como mero instrumento ao serviço daquele objectivo, ao fazer daquele país seu mercenário, e do seu território e povo, pura terra e carne para canhão da NATO/EUA, e essa é a situação em curso, desde Fevereiro de 2022… data de início da “invasão” da Rússia.

    Nesse tempo a Rússia, depois de três meses de mil e uma diligências político diplomáticas e ultimatos, de Dez2021 a Fev2022, para que a NATO e os EUA não integrassem a Ucrânia na NATO, e para retirarem o seu dispositivo militar ofensivo anti Rússia da Ucrânia, e tendo apenas obtido respostas inaceitáveis, “insultuosas mesmo”, a Rússia ficou sem opções que não fosse o assumir imediato da sua defesa militar, preventivamente mas já “in extremis”, executando uma “operação especial”, iniciada em Fev 2022, com o objectivo de “desmilitarizar e desnazificar” a Ucrânia, ou seja, fazer sair/ recuar para longe das fronteiras imediatas da Rússia (fora da Ucrânia), o dispositivo militar ofensivo anti Rússia instalado na Ucrânia, guarnecido por “carne para canhão” deste país, actuando já, repete-se, “in extremis”, e em legítima defesa da sua segurança existencial e nacional.

    Surpreendentemente, a Rússia revelou-se militarmente impreparada, incompetente e continua a sê-lo até hoje, na concepção e execução da melhor modalidade de acção e manobra para os fins militares e políticos a atingir em sua defesa, sendo notória a fraca qualidade dos seus quadros militares, desde o topo da hierarquia até aos mais baixos escalões… tendo apenas como atenuante, o facto do “inimigo real” no terreno não serem os ucranianos, simples peões não pensantes, mas sim a NATO e o Ocidente colectivo em bloco.

Sendo eu militar profissional, e seguindo desde sempre os desenvolvimentos das potencialidades das Forças Armadas da Rússia, tinha delas um conceito muito elevado, em termos de todos os equipamentos e dos mais diversos tipos de sistemas de armas, etc… e também da sua instrução, treino e prontidão operacionais, assim como das suas qualidades militares, etc… e, face ao quase colapso das mesmas na Ucrânia, não me encontro explicações…

    A direcção política da “operação especial” na Ucrânia, no particular das nomeações e desnomeações contínuas dos seus Comandantes, por alegada incompetência, revela um desnorte inexplicável do Comandante em Chefe das FA´s Russas, o Presidente V. Putin, e contrariam todas as regras que eu conheço… tendo chegado agora, ao inacreditável ponto, do Presidente V. Putin ter determinado ao seu General, Chefe de Estado Maior General das FA´s da Rússia, Valery Geramisov, função que desempenhava há mais de 10 anos, para deixar o cargo e avançar para a Ucrânia comandar a “Operação Especial”, onde substituiu o prestigiadíssimo veterano das guerras da Chechénia e da Síria, o General “Armagedeon”, no cargo há apenas uns quatro meses, que foi funcionalmente despromovido e passou a ser o 2º Comandante do General Geramisov.

    Ou algo invulgar poderá estar na iminência de ocorrer, como por exemplo o uso de armas nucleares, ou é ainda uma última tentativa de resolver a guerra na Ucrânia sem o recurso ao uso de tais meios… e depois se verá… enfim, esta situação não augura nada de bom…

… se o mais sénior dos generais russos, o General Geramisov falhar, usando apenas os meios convencionais como até agora, o que é provável, pois é óbvio que a razão do insucesso da acção militar da Rússia já não é uma questão de generais ou mesmo de meios… mas sim de algo mais complexo…

… restará à Rússia prolongar a guerra em circunstâncias cada vez mais difíceis, diria mesmo impossíveis, pois o Ocidente colectivo está a subir o patamar da guerra convencional para níveis muito mais letais, com novos carros de combate alemães, ingleses e americanos, novos sistemas de defesa anti aéreos de médio alcance dos EUA e Israel, os Patriot e outros, etc …

… nesta circunstância restará à Rússia retirar da Ucrânia, no todo ou em parte, isto é, com ou sem Crimeia, Donetsk e Lugansk… o que é sempre uma derrota militar da Rússia e o fim político de Vladimir Putin e do seu governo… e, consequentemente, será o fim da Rússia, pois a NATO e os EUA, continuarão a explorar o sucesso até atingirem esse objectivo final.

Resumindo, estas fraquezas das Forças Armadas da Rússia são já inultrapassáveis, poderão melhorar o desempenho, mas não vão resolver a guerra, com meios clássicos, e a via diplomática exigirá da Rússia, sempre, condições de rendição, para esta inaceitáveis.

Digamos que a Rússia está a mostrar ao mundo, com a nomeação do seu último General para a Ucrânia, que quase esgotou o seu potencial relativo de combate convencional, e que já só lhe restam duas opções:

- a vida ou a morte, sejam, o uso de meios nucleares ou a rendição sem o seu uso…

Aqui chegados, a Rússia demonstrou e continua ainda a demonstrar, que os EUA/NATO/EU colocaram já em causa a sobrevivência do Estado da Rússia e a segurança nacional e existencial da Federação da Rússia, e que esta cumpriu e esgotou todo o conjunto de acções político diplomáticas e militares convencionais em sua defesa, mas sem sucesso e que, nos conformes da sua política oficial de segurança nacional, tem o direito e o dever de usar meios nucleares em defesa da Rússia e dos seus povos… contra a NATO e EUA.

É este o quadro político militar, do presente e do futuro imediato, que o ano de 2023 parece apresentar à União Europeia e ao Mundo…

A situação actual do Mundo e, em particular, da Europa, neste momento, é gravíssima… e foi e é a política expansionista contra a Rússia, dos EUA e da NATO, que a ela nos conduziram…

… quanto à União Europeia… em termos desta e outras geopolíticas esta foi e é nada e ninguém… é escrava total dos objectivos dos EUA… e nada pode fazer para os contrariar... excepto obedecer cegamente… ou o Tio Samuel sanciona… e dá tau, tau...

A Rússia entretanto, nestes últimos dois meses, colocou já os seus ICBM´s móveis Yars fora das arrecadações e estacionamentos cobertos, (mísseis intercontinentais com alcances de mais de 10.000 kms), e posicionou-os em situação de trânsito e prontidão operacional imediata, os ICBM´s em silos estão sempre prontos, o submarino nuclear Belgorod está já algures nos oceanos, armado com um 1º conjunto de “torpedos nucleares” Poseidon, únicos no mundo, e um outro novo submarino nuclear está também por aí com 16 mísseis nucleares “Bulava”, etc… e entraram recentemente ao serviço, há menos de dois meses, bombardeiros pesados de longo alcance supersónicos, armados com mísseis hipersónicos com capacidade nuclear de mais de 2.000 kms de alcance, os Khinzals… a tríade nuclear russa está pronta a intervir operacionalmente… aparentemente basta carregar no botão…

… estão pois reunidas duas das condições para que o fim da humanidade se realize, nos conformes das ambições das elites globalistas ao que parece, e que são:

- 1ª A NATO e os EUA colocaram, mantêm e estão a agravar a situação de iminente perigo existencial da Rússia em termos de guerra clássica,

- 2ª A Rússia tem o dispositivo da sua tríade nuclear em posição, armada com os mais modernos mísseis nucleares super, hipersónicos e outros… falta carregar no botão…

… e falta, sobretudo, a decisão e a vontade política e humana para carregar no dito botão…

… e aqui entram os bruxos e adivinhos… será que sim ou que não… quem sabe… 2023 vai responder a esta e a outras questões… desejo que a resposta seja a do Bem e salvação da Humanidade.

Que Deus ilumine os fdp que conduziram a Humanidade a este inacreditável pré-Apocalipse… e esses fdp… na realidade não são, nem a Rússia, nem os EUA, nem a NATO, nem a pobre coitada da zé ninguém UE nestas questões…

... as únicas e exclusivas culpadas são as eufemisticamente designadas elites globalistas… velhas donas e senhoras do mundo… que andam por aí com carapaça de Bilderberg´s.

 José Luiz da Costa Sousa


 

 

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Atribulações do Combatente

 NOTA-PRÉVIA:

O que temos a seguir, é um episódio profundamente incómodo e demonstrativo da maneira de aplicação da justiça em tempos de guerras ultramarinas.

Embora seja saudável rever as "Boas Memórias", tal como referimos em - https://picadasdamicaia.blogs.sapo.pt - as más memórias também servem para nos fortalecer e acautelar. 

  VER mais:  https://jotasousa39.wixsite.com/coelho

 Sábado, 17 de Outubro de 2009

Ilha do Ibo - Fortim e Prisão


 Fortim de má memória... com final para a estória! 

Casualmente, encontrei fotos do Fortim S.José, na ilha do Ibo, Moçambique, e não pude suster a emoção devido aos seguintes factos:.

FORTIM DA ILHA DO IBO – PRISÃO POLÍTICA

 

Ao ver a imagem deste fortim não pude conter a emoção que me tocou fundo por lá ter estado detido uma semana no ano de 1967. Durante uma missão operacional a Sul de Antadora-Diaca, depois de ouvir as instruções do novo comandante de companhia, tenente Castro Gonçalves: “vamos assaltar um acampamento onde pernoitam elementos da Frelimo, onde vivem famílias que os apoiam na logística, e tudo que mexer é para abater. Não vamos fazer prisioneiros, mesmo da população civil”. Como é sabido, os Pára-quedistas eram rigorosos e eficazes no cumprimento das missões de combate, mas não dizimavam população civil, especialmente mulheres e crianças.

Os murmúrios de descontentamento ouviram-se entre o pessoal da companhia; isso deu-me o ânimo suficiente para organizar o boicote à conclusão de tal assalto. Uma noite de chuva intensa ajudou a retardar o andamento da coluna que deveria estar nas proximidades do dito acampamento pela madrugada. Estando eu a recuperar dum ferimento sofrido na coxa esquerda, aquando duma emboscada no Vale de Miteda, por causa da fricção da farda molhada, comecei a ressentir-me e originei diversas paragens para ser socorrido pelo enfermeiro Franklin Armindo. Chegados ao local apropriado para preparar o assalto, a ribeira do Nango, afluente do rio Muera, estava caudalosa e impedia a passagem para o outro lado, onde estava localizado o dito acampamento. Esperando que as águas baixassem de nível, durante o dia, o pessoal foi dando sinais ao inimigo, tanto com o barulho dos cantis como ruídos de toda a ordem. Como à luz do dia não era aconselhável fazer o assalto, o tenente adiou para a manhã do dia seguinte, tendo sido encontrados apenas dois velhos dentro das palhotas. Vimos muitos sinais da presença de pessoas, mas nada mais foi encontrado.

A primeira missão do Tenente resultou num fracasso operacional. Logo fui acusado e ameaçado com processo disciplinar e tribunal de guerra.

Regressados a Diaca, acantonámos no Sagal onde estava o médico da companhia que me receitou diversos medicamentos para minorar a infecção que tinha na perna. Enquanto recuperava, outras missões foram levadas a cabo pela companhia, sem a minha participação, embora o tenente tentasse obrigar-se a ir com o meu grupo de combate.
 


Após dois dias do regresso ao BCP31-Beira, fui informado pelo oficial de justiça, Tenente FAP Sousa e Silva,  que tinha uma grave acusação com vista à minha detenção até que fosse concluído o processo disciplinar. Aproveitei os meus conhecimentos das Leis militares para elaborar uma exposição dirigida ao Chefe de Estado-Maior da Força Aérea, tendo entregue uma cópia ao comando do Batalhão, mas só o fiz no dia seguinte ao registo da carta nos correios da Beira. Pois, corria o risco da carta ser interceptada antes de seguir ao destinatário.

Dois dias depois, pelas dez horas da noite fui detido no meu local de alojamento provisório (arrecadação de material de guerra do batalhão de que era responsável), onde trabalhava em fotografia. Pelas seis da manhã embarquei num avião DO-27, escoltado por um oficial Ppára-quedista e dois agentes da PIDE, seguindo até Nacala e depois para uma prisão na ilha do Ibo. Por outros casos antecedentes, receei pela minha vida. E não fora a boa aceitação da exposição que mandei para Lisboa, que deu origem a um longo e complicado processo de averiguações, onde cerca de 40 testemunhas, escolhidas dum grupo de mais de 150 que se dispuseram a defender-me, não sei o que teria sido o futuro. 

 

Por decisão do comandante Tenente-coronel Argentino Seixas, fui proibido de usar armas militares até ao fim do processo disciplinar, que ficou parado enquanto se desencadeou a audição de testemunhas num “Inquérito” determinado pelo Chefe de Estado-Maior da Força Aérea. A pedido do Comandante de companhia, capitão Mascarenhas Pessoa, passei a desempenhar funções de vague-mestre, dando boa assistência alimentar ao pessoal da companhia, durante as missões operacionais em Maúa, Macomia e Mocimboa do Rovuma. Ao fim de oito meses, por acordo entre as partes, foi encerrado o “inquérito”, ilibando-me de quaisquer responsabilidades.

Para atenuar o meu desconforto, o comandante determinou que o chefe da secretaria me concedesse “guia de marcha” para gozar licença na metrópole, onde acabei por estar dois meses. Aproveitei para visitar cinco países da Europa, à conta do chefe do conselho administrativo, que tinha desviado uma avultada quantia em dinheiro através das “saídas” para alimentação em zona operacional, sob a minha vigência de vague-mestre.

 

Curiosamente, em 2004, durante uma palestra na Quinta de Bonjóia, no Porto, encontrei-me com o então padre da Paróquia de Mueda, Faustino Limbombo. Ao ouvir a sua apresentação nessa conferência, apercebi-me que o mesmo nasceu precisamente na aldeia que pretendíamos assaltar e destruir. Disse que a mãe teve que fugir da tropa portuguesa e caminhar até outra aldeia mais a sul junto à mesma ribeira Nango, perto de Muidumbe; que isso aconteceu quando ele tinha oito dias de vida. Dos croquis e diário de missão que levava comigo e referentes a essa data, chegamos à feliz conclusão de que, a ser consumada a vontade do tenente Gonçalves, o padre Faustino seria uma das vítimas desse assalto. Há situações que nunca chegarão a ser esclarecidas como neste caso. 

 


Juntamente com um grupo de 67 Antigos Paraquedistas que combateram em Moçambique, em 2005 desloquei-me até Mueda, onde encontrei o Padre Faustino na difícil lide com os fiéis da sua paróquia, que percorre, por picadas e estradas, de bicicleta ou de motorizada, consoante tenha ou não dinheiro para a gasolina. Fazia os percursos até Nangade e Mocimboa da Praia, todas as semanas.

A nossa comitiva transportou grande quantidade de material escolar que entregámos à Associação de Combatentes pela Independência de Moçambique e ao Padre Limbombo, além de medicamentos e dinheiro (meticais e euros) como agradecimento por terem providenciado a limpeza do cemitério militar de Mueda, onde repousam mais de duzentos militares Portugueses, num deplorável e vergonhoso estado de abandono.

 

Repórter:  Joaquim Coelho

 

Clik no link para VER:

 

 https://picadasdamicaia.blogs.sapo.pt/?tc=126241917433