ENCRUZILHADAS DA VIDA
Quando o desejo é uma
caricatura da ilusão que reforça a identidade que procuro na natureza humana,
fico com a sensação de que estou a resvalar para uma relação mais contemplativa
do que fundida nas feições duma mulher.
A mulher é mais do que um
corpo feminino, é uma inspiradora de sentimentos e afectos que gosto de
compartilhar. Às vezes procuro encontrar-te neste universo apaixonante dos
sentidos e vejo uma ilha que qualquer vendaval pode destruir. Ao tentar
descobrir o que te vai na alma, mesmo com o auxílio da imaginação, percebo que
te debates contra a sociedade e a desumanidade das pessoas que se tornaram
egoístas. Das palavras, dos olhares, dos gestos e dos sentimentos transmites um
pesado sentimento de revolta por te sentires injustiçada. Ao tentares descobrir
as causas, sentes-te oprimida e desiludida por não reconhecerem e pagarem o
mérito do teu trabalho, por teres que gerir a vida familiar com escassos
recursos, por te limitarem nas relações amorosas, onde o ritual de aproximação
e usufruto das carícias ternurentas de alguém pode ser um jogo de incertezas e
de angústias.
A questão do amor é mais
complexa do que pode parecer; é através do sentido de amar que descobrimos o
nosso eu mais profundo, como quem embarca numa viagem nos labirintos da vida
que nos conforta na descoberta dos outros que nos são afins. Mas a
multiplicidade de sentimentos cruzados pode criar um ambiente de alucinação que
nos comove e emociona até perdermos o sentido da realidade. Então, podemos ser
enganados pela ilusão incutida pelos manipuladores da verdade e dos sentidos
que nos deixam incapazes de perceber o mundo de aparências fantásticas que nos
atrofiam a vontade e o discernimento para entender os enredos que nos vão
manietando caprichosamente.
Nas relações entre homem e
mulher, há cada vez mais malabarismos flutuantes que ambos podem usar para
criar a ilusão do mundo fantástico. Quem alimentar esses desvios da natural
convivência humana, está a contribuir para a destruição dos valores que
frutificam no espaço do amor. Os desencontros são cada vez mais dramáticos e
arrasadores para os seres mais débeis, deixando um rasto de sofrimento e
desespero difícil de consertar. Perdida a liberdade de discernimento pela
razão, os pesadelos podem ficar encrostados na nossa mente e condicionar as
tentativas de retorno ao mundo real que nos rodeia.
Por natureza, preciso de
conviver com as mulheres! Nos últimos tempos, comportamentos adversos ao meu modo
de viver excluíram-me da convivência salutar onde a mulher desempenha
importante papel na partilha e na cumplicidade dos momentos eróticos. Faz parte
da natureza humana, sendo até um complemento primordial para o equilíbrio
emocional e hormonal, a troca de carícias e o entrelaçar dos corpos nos actos
de amor. A mulher é uma espécie de monumento sagrado, pouco acessível, que
muitos homens não compreendem o que têm dentro nem sabem esculpir nela a imagem
da sua preferência. Em vez de a observarem com sentido de partilha de algo que
podem ter em comum, procurando aperfeiçoar e harmonizar a relação, por razões
de machismo tosco, o homem tenta manipular as fragilidades da mulher até à
consumação do seu desejo de conquista e posse. É este sentimento possessivo que
não se enquadra nos trâmites actuais das relações humanas que leva ao descambar
de muitos casamentos ou relações maritais aparentemente estáveis.
Há! como eu gostava de
agarrar a vida com a frescura de quem ama! Mesmo que num momento fugidio do
casual encontro, imagino prender-te pela cintura, acariciar teu corpo e assimilar
o teu sentir relaxante com o turbilhão de mimos que nos deliciassem os corpos
desprendidos no silêncio da solidão. O prelúdio do momento ficará sempre na
lembrança de quem o alimenta. Pressinto que vamos vencer os constrangimentos e
a tua vida será mais feliz.