O QUE SE DIZ DA GUERRA COLONIAL
No plano das narrativas, temos
assistido a algumas bacoradas lançadas a público por meia dúzia de indivíduos
que pouco fizeram durante a guerra, portanto sem relação com as vivências no
terreno. Pela amostragem, aparecem quase sempre os mesmos, gente que esteve
longe dos dramas e das angústias vividas no meio das matas e dos trilhos ou
picadas onde o perigo das emboscadas e das minas eram o tormento de todos os
minutos.
Lamentavelmente, os indícios sobre
a tentativa de branquear os erros dos governantes e minimizar o desempenho dos
verdadeiros combatentes são evidentes e fazem parte da vergonhosa campanha para
justificar o desprezo pelos que sofreram no corpo e na alma os efeitos da
guerra e são uma afronta à memória dos “nossos” mortos em combate.
Esses arautos da mentira
esquecem-se que houve muitas situações trágicas que causaram a morte a mais de
dez mil homens cuja missão era proporcionar segurança e bem-estar aos que
trabalhavam na retaguarda.
Depois, temos uma casta de
escritos a difundir a ideia dos desertores ou cobardes proscritos pela Pátria
que traíram. São enredos com palavras bonitas e bem colocadas mas vazias de
conteúdo perceptível para a maioria dos portugueses que tiveram alguém
envolvido numa guerra que marcou a vida duma geração e mexeu com mais de um
milhão de famílias portuguesas. Fazem parte de um trabalho dirigido à elite
intelectual dos senhores lobistas que vivem nas catacumbas parasitárias da
cultura portuguesa; são família do mesmo lóbi que tem contribuído para agravar
o definhar da sociedade, especialmente na educação e saber que são o fundamento
dum povo a precisar de ideias e acções capazes de salvar o que resta dos
valores da cidadania.
Do que temos visto dos arautos da
Guerra Colonial, são poucos os exemplos de patriotas com coragem para
defenderem uma imagem digna dos combatentes. Curiosamente, temos dois maus
exemplos nas pessoas de Manuel Alegre e António Lobo Antunes cujos textos
continuam a estar na estampa, mas as suas acções públicas deixam um rasto de
insultos que indignam os verdadeiros combatentes da Guerra Colonial. Destes
dois “famosos” não se conhecem tomadas de posição que ajudem a resolver os
principais problemas em aberto no contexto da descolonização: assistência e
apoio efectivo aos traumatizados e a devolução, às terras de origem, dos restos
mortais dos combatentes que ficaram nas terras remotas de África.
Junho de 2010 – Joaquim Coelho