segunda-feira, 3 de julho de 2017

O QUE SE DIZ DA GUERRA COLONIAL

No plano das narrativas, temos assistido a algumas bacoradas lançadas a público por meia dúzia de indivíduos que pouco fizeram durante a guerra, portanto sem relação com as vivências no terreno. Pela amostragem, aparecem quase sempre os mesmos, gente que esteve longe dos dramas e das angústias vividas no meio das matas e dos trilhos ou picadas onde o perigo das emboscadas e das minas eram o tormento de todos os minutos.
Lamentavelmente, os indícios sobre a tentativa de branquear os erros dos governantes e minimizar o desempenho dos verdadeiros combatentes são evidentes e fazem parte da vergonhosa campanha para justificar o desprezo pelos que sofreram no corpo e na alma os efeitos da guerra e são uma afronta à memória dos “nossos” mortos em combate.
Esses arautos da mentira esquecem-se que houve muitas situações trágicas que causaram a morte a mais de dez mil homens cuja missão era proporcionar segurança e bem-estar aos que trabalhavam na retaguarda.
Depois, temos uma casta de escritos a difundir a ideia dos desertores ou cobardes proscritos pela Pátria que traíram. São enredos com palavras bonitas e bem colocadas mas vazias de conteúdo perceptível para a maioria dos portugueses que tiveram alguém envolvido numa guerra que marcou a vida duma geração e mexeu com mais de um milhão de famílias portuguesas. Fazem parte de um trabalho dirigido à elite intelectual dos senhores lobistas que vivem nas catacumbas parasitárias da cultura portuguesa; são família do mesmo lóbi que tem contribuído para agravar o definhar da sociedade, especialmente na educação e saber que são o fundamento dum povo a precisar de ideias e acções capazes de salvar o que resta dos valores da cidadania. 
Do que temos visto dos arautos da Guerra Colonial, são poucos os exemplos de patriotas com coragem para defenderem uma imagem digna dos combatentes. Curiosamente, temos dois maus exemplos nas pessoas de Manuel Alegre e António Lobo Antunes cujos textos continuam a estar na estampa, mas as suas acções públicas deixam um rasto de insultos que indignam os verdadeiros combatentes da Guerra Colonial. Destes dois “famosos” não se conhecem tomadas de posição que ajudem a resolver os principais problemas em aberto no contexto da descolonização: assistência e apoio efectivo aos traumatizados e a devolução, às terras de origem, dos restos mortais dos combatentes que ficaram nas terras remotas de África.


Junho de 2010 – Joaquim Coelho